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18/08/2013

MAIS EQUÍVOCOS GOVERNAMENTAIS NAS POLÍTICAS DE DROGAS

MAIS EQUÍVOCOS GOVERNAMENTAIS NAS POLÍTICAS DE DROGAS...
Diversas instâncias governamentais tem apresentado propostas de enfrentamento dos problemas relacionados a dependência química. No entanto, a grande maioria delas parte de pressupostos equivocados a respeito do tema, não conseguindo assim caminhar para a real solução do problema. Uma dessas iniciativas questionáveis seria o projeto Recomeço. Ao dependente químico seria disponibilizada a quantia de 1.350 reais mensais, durante seis meses, paga diretamente a uma instituição de internação, preferencialmente uma comunidade terapêutica. 

Ou seja, o primeiro grande engano é que já se determina de antemão uma estratégia terapêutica fundamentada na internação e, pior ainda, em uma comunidade terapêutica. Não existe fundamentação cientifica para se privilegiar o tratamento através de internação em detrimento de um tratamento ambulatorial. A eficácia tende a ser maior quando o dependente é atendido ambulatorialmente por uma equipe multidisciplinar (a exemplo do que ocorre nos CAPS-AD, como preconiza o Ministério da Saúde). No caso das internações, a imensa maioria dos dependentes recai logo após o seu termino. Se agregarmos as avaliações de custo-benefício aos estudos de eficácia, chegaremos a conclusão que este é um modelo incomparavelmente mais dispendioso e menos eficaz.

Isto para não mencionar outros problemas bastante graves que foram levantados nos últimos anos a respeito das comunidades terapêuticas. Embora algumas delas sejam exemplares e ofereçam um tratamento de qualidade, infelizmente são exceções. Na grande maioria das vezes, as CT são instituições precárias, com equipes mal preparadas, que utilizam métodos pouco científicos, sem preocupação com avaliação da eficácia das intervenções propostas. São geralmente modelos mistos, com forte viés moralista, sem conhecimento adequado da complexidade do fenômeno dependência. A maioria delas sequer sabe distinguir um usuário de um dependente de drogas (e precisamos lembrar que os estudos epidemiológicos do mundo inteiro nos mostram que mais de 80 % dos usuários de drogas não são dependentes e portanto, não teriam que ser submetidos a nenhuma forma de tratamento!!!)

Isto sem mencionar os frequentes casos de aviltamento a que são submetidos os pacientes internados, alguns deles sofrendo tortura psicológica e mesmo física, como foi amplamente documentado por vários órgãos, inclusive pelo Conselho Federal de Psicologia. Os pontos centrais que não deveriam ser negligenciados em qualquer iniciativa de abordagem da questão: A grande maioria dos usuários de drogas não são dependentes; deve sempre ser privilegiado o tratamento ambulatorial, sem o afastamento do dependente do seu meio (menos custoso e mais eficaz); nos casos que requerem internação (menos de 20 %), esta deveria ser de curta duração (geralmente de 2 a 4 semanas apenas) e serem feitas em ambiente de hospital geral. As internações longas não contemplam as necessidades do dependente químico e, pior ainda, reeditam o inadequado modelo psiquiátrico asilar e manicomial. 

Diante do exposto, os governos deveriam investir esses recursos do projeto nas suas próprias estruturas de atendimento, implementando as unidades básicas de saúde e os CAPS-AD, o que talvez não resulte em mais votos mas que certamente ajudaria muito mais os dependentes de drogas. A ONU preconiza que o tratamento de um dependente químico deva ser feito preferencialmente em regime ambulatorial e que os tratamentos coercitivos (como ocorre com a imensa maioria das internações) deveriam ser considerados como equivalentes a tortura. Acho irônico que justamente quando temos na chefia de nosso atual governo federal uma pessoa que foi vítima de tortura na época da ditadura militar, sejam incentivadas medidas “terapêuticas” que os órgãos internacionais consideram como sendo formas disfarçadas de tortura(!).

Dartiu Xavier da Silveira
Professor Livre-Docente da Universidade Federal de São Paulo

14/08/2013

Triplica parcela de jovens internados por tráfico de drogas

Triplica parcela de jovens internados por tráfico de drogas

ÉRICA FRAGA
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO

"Com 16 anos, eu comecei como aviãozinho, fui crescendo de cargo, virei traficante, depois gerente, depois conquistei um espaço só meu, virei dono de uma boca."
A ascensão de T., hoje com 18 anos, na carreira de tráfico de entorpecentes foi rápida e curta. Há sete meses, está internado na Fundação Casa (antiga Febem), depois de ter sido detido por policiais.

T. e outros três adolescentes apreendidos nas unidades Casa Osasco 1 e 2, em São Paulo, relatam ser fácil conseguir um espaço na comercialização de drogas ilícitas.
"Sempre começa com alguém que te chama. Só basta você querer. Se você falar não, é não", diz F., 15.


O número de jovens que, como T. e F., não conseguiram dizer não ao tráfico de drogas, apesar da expansão do emprego formal e do aumento da escolaridade nos últimos anos, explodiu.


Eles representavam 7,5% dos adolescentes que cumpriam medida de restrição de liberdade em 2002, segundo a Secretaria de Direitos Humanos (SDH).

Em uma década, esse percentual mais do que triplicou, atingindo 26,6% em 2011. A expansão ocorreu em 22 das 27 unidades da federação.

Levantamento feito pela Folha mostra que a tendência de expansão continua. Entre 14 Estados que forneceram dados, 10 registraram aumento da incidência de tráfico entre adolescentes infratores.
Editoria de Arte/Folhapress

A causa mais citada por especialistas para o maior número de jovens traficantes é o crescimento do consumo de drogas no país.

"Existe uma grande epidemia de consumo de crack, que você consegue comprar até por R$ 0,50", diz Joelza Mesquita Andrade Pires, presidente da fundação de atendimento socioeducativo do Rio Grande do Sul.

A dificuldade que os jovens, principalmente os de famílias com menor renda, enfrentam para entrar no mercado de trabalho formal também é ressaltada.
A maioria dos adolescentes infratores abandonou os estudos ou apresenta defasagem de série na escola.

"O jovem que tem formação educacional ruim e não consegue colocação no mercado de trabalho é recebido de braços abertos no tráfico", diz Berenice Gianella, presidente da Fundação Casa. "Os menores são mão de obra farta e barata para o tráfico."

A fatia de jovens internados por tráfico em 2011 (26,6% do total) era maior que a de adultos presos pelo mesmo motivo (24,4%). Hoje, o tráfico só perde para o roubo entre os delitos que levam à apreensão de adolescentes.

Para ver este artigo pelo site da Folha, clique aqui.

13/08/2013

Why I changed my mind on weed

Why I changed my mind on weed


(CNN) -- Over the last year, I have been working on a new documentary called "Weed." The title "Weed" may sound cavalier, but the content is not.
I traveled around the world to interview medical leaders, experts, growers and patients. I spoke candidly to them, asking tough questions. What I found was stunning.
Long before I began this project, I had steadily reviewed the scientific literature on medical marijuana from the United States and thought it was fairly unimpressive. Reading these papers five years ago, it was hard to make a case for medicinal marijuana. I even wrote about this in a TIME magazine article, back in 2009, titled "Why I would Vote No on Pot."
Well, I am here to apologize.
I apologize because I didn't look hard enough, until now. I didn't look far enough. I didn't review papers from smaller labs in other countries doing some remarkable research, and I was too dismissive of the loud chorus of legitimate patients whose symptoms improved on cannabis.
Instead, I lumped them with the high-visibility malingerers, just looking to get high. I mistakenly believed the Drug Enforcement Agency listed marijuana as a schedule 1 substance because of sound scientific proof. Surely, they must have quality reasoning as to why marijuana is in the category of the most dangerous drugs that have "no accepted medicinal use and a high potential for abuse."
Dr. Sanjay Gupta is a neurosurgeon and CNN\'s chief medical correspondent.
Dr. Sanjay Gupta is a neurosurgeon and CNN's chief medical correspondent.
They didn't have the science to support that claim, and I now know that when it comes to marijuana neither of those things are true. It doesn't have a high potential for abuse, and there are very legitimate medical applications. In fact, sometimes marijuana is the only thing that works. Take the case ofCharlotte Figi, who I met in Colorado. She started having seizures soon after birth. By age 3, she was having 300 a week, despite being on seven different medications. Medical marijuana has calmed her brain, limiting her seizures to 2 or 3 per month.
I have seen more patients like Charlotte first hand, spent time with them and come to the realization that it is irresponsible not to provide the best care we can as a medical community, care that could involve marijuana.
We have been terribly and systematically misled for nearly 70 years in the United States, and I apologize for my own role in that.
I hope this article and upcoming documentary will help set the record straight.
On August 14, 1970, the Assistant Secretary of Health, Dr. Roger O. Egeberg wrote a letter recommending the plant, marijuana, be classified as a schedule 1 substance, and it has remained that way for nearly 45 years. My research started with a careful reading of that decades old letter. What I found was unsettling. Egeberg had carefully chosen his words:
"Since there is still a considerable void in our knowledge of the plant and effects of the active drug contained in it, our recommendation is that marijuana be retained within schedule 1 at least until the completion of certain studies now underway to resolve the issue."
Not because of sound science, but because of its absence, marijuana was classified as a schedule 1 substance. Again, the year was 1970. Egeberg mentions studies that are underway, but many were never completed. As my investigation continued, however, I realized Egeberg did in fact have important research already available to him, some of it from more than 25 years earlier.
High risk of abuse
In 1944, New York Mayor Fiorello LaGuardia commissioned research to be performed by the New York Academy of Science. Among their conclusions: they found marijuana did not lead to significant addiction in the medical sense of the word. They also did not find any evidence marijuana led to morphine, heroin or cocaine addiction.
We now know that while estimates vary, marijuana leads to dependence in around 9 to 10% of its adult users. By comparison, cocaine, a schedule 2 substance "with less abuse potential than schedule 1 drugs" hooks 20% of those who use it. Around 25% of heroin users become addicted.
The worst is tobacco, where the number is closer to 30% of smokers, many of whom go on to die because of their addiction.
There is clear evidence that in some people marijuana use can lead to withdrawal symptoms, including insomnia, anxiety and nausea. Even considering this, it is hard to make a case that it has a high potential for abuse. The physical symptoms of marijuana addiction are nothing like those of the other drugs I've mentioned. I have seen the withdrawal from alcohol, and it can be life threatening.
I do want to mention a concern that I think about as a father. Young, developing brains are likely more susceptible to harm from marijuana than adult brains. Some recent studies suggest that regular use in teenage years leads to a permanent decrease in IQ. Other research hints at a possible heightened risk of developing psychosis.
Much in the same way I wouldn't let my own children drink alcohol, I wouldn't permit marijuana until they are adults. If they are adamant about trying marijuana, I will urge them to wait until they're in their mid-20s when their brains are fully developed.
Medical benefit
While investigating, I realized something else quite important. Medical marijuana is not new, and the medical community has been writing about it for a long time. There were in fact hundreds of journal articles, mostly documenting the benefits. Most of those papers, however, were written between the years 1840 and 1930. The papers described the use of medical marijuana to treat "neuralgia, convulsive disorders, emaciation," among other things.
A search through the U.S. National Library of Medicine this past year pulled up nearly 20,000 more recent papers. But the majority were research into the harm of marijuana, such as "Bad trip due to anticholinergic effect of cannabis," or "Cannabis induced pancreatitits" and "Marijuana use and risk of lung cancer."
In my quick running of the numbers, I calculated about 6% of the current U.S. marijuana studies investigate the benefits of medical marijuana. The rest are designed to investigate harm. That imbalance paints a highly distorted picture.
The challenges of marijuana research
To do studies on marijuana in the United States today, you need two important things.
First of all, you need marijuana. And marijuana is illegal. You see the problem. Scientists can get research marijuana from a special farm in Mississippi, which is astonishingly located in the middle of the Ole Miss campus, but it is challenging. When I visited this year, there was no marijuana being grown.
The second thing you need is approval, and the scientists I interviewed kept reminding me how tedious that can be. While a cancer study may first be evaluated by the National Cancer Institute, or a pain study may go through the National Institute for Neurological Disorders, there is one more approval required for marijuana: NIDA, the National Institute on Drug Abuse. It is an organization that has a core mission of studying drug abuse, as opposed to benefit.
Stuck in the middle are the legitimate patients who depend on marijuana as a medicine, oftentimes as their only good option.
Keep in mind that up until 1943, marijuana was part of the United States drug pharmacopeia. One of the conditions for which it was prescribed was neuropathic pain. It is a miserable pain that's tough to treat. My own patients have described it as "lancinating, burning and a barrage of pins and needles." While marijuana has long been documented to be effective for this awful pain, the most common medications prescribed today come from the poppy plant, including morphine, oxycodone and dilaudid.
Here is the problem. Most of these medications don't work very well for this kind of pain, and tolerance is a real problem.
Most frightening to me is that someone dies in the United Statesevery 19 minutes from a prescription drug overdose, mostly accidental. Every 19 minutes. It is a horrifying statistic. As much as I searched, I could not find a documented case of death from marijuana overdose.
It is perhaps no surprise then that 76% of physicians recentlysurveyed said they would approve the use of marijuana to help ease a woman's pain from breast cancer.
When marijuana became a schedule 1 substance, there was a request to fill a "void in our knowledge." In the United States, that has been challenging because of the infrastructure surrounding the study of an illegal substance, with a drug abuse organization at the heart of the approval process. And yet, despite the hurdles, we have made considerable progress that continues today.
Looking forward, I am especially intrigued by studies like those in Spain and Israel looking at the anti-cancer effects of marijuana and its components. I'm intrigued by the neuro-protective study by Lev Meschoulam in Israel, and research in Israel and the United States on whether the drug might help alleviate symptoms of PTSD. I promise to do my part to help, genuinely and honestly, fill the remaining void in our knowledge.
Citizens in 20 states and the District of Columbia have now voted to approve marijuana for medical applications, and more states will be making that choice soon. As for Dr. Roger Egeberg, who wrote that letter in 1970, he passed away 16 years ago.
I wonder what he would think if he were alive today.

11/08/2013

Uruguai adota posição 'audaciosa', diz secretário nacional de Políticas sobre Drogas

Uruguai adota posição 'audaciosa', diz secretário nacional de Políticas sobre Drogas

Para secretário, as relações fronteiriças se manterão inabaladas caso o país vizinho consiga controlar a produção e a comercialização da maconha

Marcela Mattos, de Brasília
Vitore Maximiano, secretário nacional de política antidrogas
Vitore Maximiano, secretário nacional de política antidrogas (SENAD/Divulgação)
Há pouco mais de cem dias à frente da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), órgão do Ministério da Justiça, Vitore Maximiano classifica os passos do Uruguai rumo à legalização da maconha como um processo “audacioso” e “ousado”. O vizinho sul-americano, diz o secretário, será acompanhado de perto caso o Senado confirme a aprove a medida – quenão tem o apoio dos próprios uruguaios. O impacto que a legalização traria ao Brasil, porém, ainda é incerto. Neste primeiro momento, outros países fronteiriços, como Bolívia e Colômbia, trazem mais preocupação ao governo brasileiro pelo fato de serem produtores de drogas e não possuírem políticas de controle. Maximiano aponta que o Brasil não segue rota similar à uruguaia: “É uma mudança que, a depender do parlamento, não deve acontecer”. Ele acrescenta outros fatores, como o tamanho da rede de saúde pública e a própria cultura dos brasileiros, como evidência do despreparo do Brasil para o livre consumo da maconha.   
Leia trechos da entrevista ao site de VEJA. 
Como o governo brasileiro observa o avanço do Uruguai no sentido de legalizar a maconha? No mínimo com muita curiosidade, como todo o mundo. As atenções de organismos internacionais, de países vizinhos, boa parte do mundo que tem interesse no tema droga, certamente estarão voltadas para o Uruguai para verificar essa experiência. É evidente que nós também acompanharemos de perto toda essa movimentação, até porque isso pode trazer reflexos para o país e para a nossa política.  
Quais reflexos? O Uruguai está adotando uma política que, neste momento, eles reconhecem como a mais cabível. De fato, a política do Uruguai tem sido bastante audaciosa. Eu tenho participado de debates no ambiente internacional, e o mundo busca alternativas para a política de drogas. O Uruguai dá o pontapé inicial com uma política muito ousada.   
A legalização preocupa? Pode ser que venha a preocupar. Mas nos preocupam muito mais outros países vizinhos onde há produção da droga. O Uruguai não produz. Pode ser que venha a produzir de forma lícita. Se houver controle dentro do Uruguai, com a produção voltada tão somente para seu consumo interno, talvez isso não traga maiores repercussões para o Brasil. O importante é que dentro do Uruguai haja controle, seja da produção, seja da distribuição, justamente para que não haja instrumentos e mecanismos para alimentar o mercado 
Caso o Uruguai perca o controle, quais providências o Brasil teria de tomar? Se não houver controle, nós vamos tomar todas as providências que a gente vem tomando em relação aos demais países fronteiriços, onde há produção de droga, como ações mais fortes na fronteira. Vi uma notícia de que o próprio Mujica [José Mujica, presidente do Uruguai] mostrou que se eles perderem o controle, a legislação pode ser revogada. Então, se o Uruguai perder o controle lá na frente, que ele reveja a sua legislação.
O senhor acha que o Brasil está preparado para descriminalizar e legalizar a maconha? O debate aqui no Brasil ainda é muito inicial, e as ações para a descriminalização têm acontecido nos países de forma muito inicial também. O país mudou a legislação em 2006 e nós estamos a experimentando. Demos um passo fundamental na retirada da punição para o usuário. Hoje, se um cidadão for flagrado portando droga ilícita para o seu consumo, a possibilidade de ele ser preso é nenhuma. A legislação ainda trata o porte como uma conduta criminosa, a diferença é que hoje não há mais pena de prisão [o usuário terá de passar por medidas socioeducativas e de serviço à comunidade]. 
Mas em relação às condições da saúde pública e do controle, o país está preparado para a legalização? Temos avançado bastante, mas, se nós considerarmos a rede de saúde, de fato o país não está preparado para pensar em uma política de descriminalização. E não sei se a polícia teria condições de fazer esse controle. Ela cumpre um papel de repressão. Talvez teríamos de pensar em agências, uma outra esfera. As ações atuais ainda não permitiriam a adoção de uma política como tal. Se de fato o país pensar na descriminalização, tem de dotar de rede de saúde, mudar a cultura das pessoas de compreender este programa.  
Quais outros fatores faltam para a legalização? Um debate amplo. Essa discussão tem existido no ambiente acadêmico, mas esse debate tem de avançar para o parlamento brasileiro. Não tenho visto essa discussão lá. Então, estimo que essa seja uma mudança que, a depender do parlamento, não deve acontecer. O que pode haver no Brasil é um fenômeno parecido ao da Argentina, onde a suprema corte do país decretou a descriminalização a partir de ações judiciais. O Supremo hoje tem uma ação de repercussão geral que vai analisar a constitucionalidade desse dispositivo que criminaliza o usuário. E, se o STF entender que esse dispositivo é inconstitucional e der um efeito para todos, aí, por decisão da Corte, poderá haver a descriminalização. Vale ressaltar que esse debate é tão somente sobre a maconha.
O senhor defende a prisão para os pequenos traficantes, aqueles que não comandam as organizações criminosas, mas que alimentam o tráfico? Eu sou favorável a um tratamento diferenciado para pessoas que são acusadas de realizarem o pequeno comércio da droga. Atualmente, a legislação já prevê um redutor de pena para quem é primário, que não tem ligação com organização criminosa e não se dedica a atividades criminosas. O que nós temos percebido é que este dispositivo não tem sido aplicado com o volume necessário. Em torno de 80% das prisões por tráfico de drogas realizadas no Brasil são prisões decorrentes de policiamento de rotina – o que significa que não houve investigação. Se não tem um serviço de inteligência que permita desvendar as ações e descobrir quem é o agente que comanda a venda de droga, nós acabamos somente prendendo pequenos vendedores – numa ação que muitas vezes não produz o resultado desejado, que é diminuir o tráfico. 
O senhor defende a diferenciação entre usuário e traficante? A lei já faz essa diferenciação. Quando se reconhece que estamos diante de alguém que é traficante, mas não é vinculado à organização criminosa e é primário, temos de aplicar aquele dispositivo da legislação. Eu acho que de fato o país precisa ter muito mais cuidado com as ações de polícia para que nós não cometamos injustiça e não haja pessoas que são somente usuárias presas por tráfico de drogas.  
Mas isso não é inocentar alguém que está alimentando um comércio ilegal? O usuário alimenta o comércio, não tenho dúvidas. Mas estamos em uma nova fase no país, e esse movimento é mundial: de tirar do usuário o peso da justiça penal e colocar sobre ele o foco da saúde e da reinserção social. O país fez isso em 2006, quando passou a tratar o usuário com esse enfoque. Não é um afrouxamento, porque o usuário é um paciente que está vivendo uma patologia. Criminalizar o usuário foi um movimento que não tem dado certo. O Brasil hoje encontra uma solução que manteve como conduta criminosa o porte de drogas para o consumo, mas não estão previstas penas restritivas de liberdade. 
O senhor apoia a internação compulsória? A legislação admite três modalidades de internação: voluntária, involuntária ou compulsória. A compulsória, aquela decretada pelo juiz, é muito rara no país. Isso precisa ser desmistificado: a internação em equipamento de saúde conduzida por médicos tem numa finalidade, que é desintoxicar alguém que está vivendo uma dependência de grande vulnerabilidade. Como toda patologia, a internação pode mostrar-se necessária. Mas não vejo como solução uma internação compulsória. Não acho que o juiz tenha critérios técnicos para avaliar se um paciente necessita ou não ser internado.

Para saber mais, clique aqui.

06/08/2013

Campanhas assustadoras não são eficazes no combate às drogas, diz estudo

Campanhas assustadoras não são eficazes no combate às drogas, diz estudo

Pesquisa mostra que os usuários dessas substâncias têm consciência dos riscos e se consideram bem informados sobre o assunto

Homem bate cinzas de cigarro em um cinzeiro lotado
Resultados da pesquisa mostraram que fumantes são duas vezes mais propensos a buscar informações sobre os riscos do cigarro à saúde do que pessoas que não fumam (Srdjan Zivulovic/Reuters)
Campanhas de conscientização contra drogas e tabagismo frequentemente utilizam imagens chocantes com objetivo de assustar as pessoas que fazem uso dessas substâncias. Porém, um novo estudo indica que fornecer informações sobre como álcool e drogas fazem mal à saúde pode não ser uma tática eficaz para incentivar as pessoas a abandonarem o vício.
A pesquisa, publicada na edição de julho do periódico International Journal of Public Health, também concluiu que os usuários dessas substâncias sabem mais sobre seus riscos do que as pessoas que optaram por não utilizá-las.
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores da Universidade de Zurique e do Hospital Universitário Lausanne, ambos na Suíça, coletaram informações de 11 930 homens de, em média, 20 anos de idade, que se alistaram no exército suíço. Os participantes responderam perguntas sobre consumo de álcool, tabaco e maconha, e sobre a frequência com a qual eles buscavam informações sobre os riscos à saúde oferecidos por tais substâncias.
Os resultados mostraram que pessoas que utilizam maconha pelo menos uma vez por semana são quatro vezes mais propensas a procurar informações sobre os riscos à saúde do que as pessoas que não fazem uso da droga.
Já fumantes e pessoas que bebem em binge – termo em inglês usado para caracterizar o consumo de grandes quantidades de álcool que, neste caso, correspondia a cinco drinques em um curto espaço de tempo – pelo menos uma vez por mês também são duas vezes mais propensos a procurar informações sobre os riscos relacionados a esses hábitos. A confiabilidade desses dados, porém, está sujeita à condição de que os próprios participantes responderam sobre seus hábitos.
Informação – As pessoas que faziam uso regular das substâncias estudadas também se mostraram mais propensas a classificar seu conhecimento sobre os riscos como melhor do que o das pessoas que não utilizavam as substâncias. Para os pesquisadores, esse resultado foi particularmente surpreendente, uma vez que os usuários de álcool e drogas que participaram do estudo tinham, em média, menor escolaridade, e pessoas nessa condição costumam se considerar menos informadas sobre saúde.
Novas estratégias – Esses resultados indicam que as campanhas de prevenção precisam ser repensadas. Os autores do estudo acreditam que é possível que as consequências a longo prazo, como câncer de pulmão ou cirrose, pareçam tão distantes que não tenham impacto sobre as decisões imediatas dos usuários. Outra possibilidade seria o fato de alguns usuários acreditarem que o álcool ou a maconha apresentam mais benefícios que do que riscos.
Petra Dermota, psicóloga da Universidade de Zurique e coautora do estudo, afirma que, ao invés de tentar chocar e assustar, as campanhas antidrogas deveriam ser mais interativas e incentivar o pensamento crítico, a fim de realmente modificar as atitudes dos usuários.
Para saber, clique aqui.
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