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04/09/2013

O papa é mesmo pop? Traços conservadores no discurso sobre drogas



O papa é mesmo pop? Traços conservadores no discurso sobre drogas

Renato Rossi

Na recente visita do novo papa ao Brasil, muito foi questionado a ele sobre diversos temas polêmicos e muitas declarações foram dadas. Relacionamentos homossexuais, protestos pelo Brasil e, sim, o crescente problema relacionado a drogas e a dependência química pelo mundo.
Na visita do papa Francisco ao Brasil, durante a inauguração do Pólo de Atendimento a Dependentes Químicos, do Hospital São Francisco de Assis no Rio de Janeiro, ele realizou um discurso em relação à problemática das drogas que causou certa surpresa. Com um enfoque bastante conservador e defendendo linhas de pensamento um tanto quanto ultrapassadas. O lado “pop” do papa ficou em xeque.
Retrospectivamente, os Estados Unidos encabeçaram a polêmica “War on Drugs” (Guerra às Drogas), com o objetivo de eliminar as drogas do mundo. Muitos países aderiram a essa visão e seu fracasso foi compartilhado. Alternativamente, a visão política de “Harm Reduction” (Redução de Danos) tem tido crescente abrangência no mundo, principalmente na América Latina e Europa. A Redução de Danos tem uma visão realista de que o problema não são as drogas, mas a relação disfuncional entre os dependentes e as substâncias. Além disso, percebeu-se que muitos dos danos a dependentes e usuários são decorrentes da rigidez das políticas proibicionistas e da criminalização indiscutível das drogas. Dessa forma, sua visão tem um compromisso com práticas de respeito à vida, procurando minimizar/resolver os problemas decorrentes do uso de substâncias e propor políticas humanitárias de forma alternativa.
É possível perceber que essa visão vanguardista é diferente de um “liberou geral”, uma vez que reconhece as consequências da dependência química e propõe formas pragmáticas para sua resolução. E é justamente nesse ponto que o discurso feito pelo papa Francisco se equivoca. Políticas antiproibicionistas não são políticas incentivadoras ao uso, mas estratégias de saúde pública que vêm ganhando espaço no mundo de forma crescente.
O que me preocupa é justamente as repercussões desse ponto. Em outras áreas, o novo papa tem se mostrado uma figura humanista e carismática, com posicionamentos bastante novos em relação a, por exemplo, relacionamentos homossexuais e ateísmo. Um discurso com preceitos falhos e decadentes feito por uma figura vanguardista pode passar uma imagem falsa sobre os posicionamentos desse debate.
E isso se torna mais complicado nesse momento do nosso país. Mesmo contra recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da OPAS (Organização Panamericana da Saúde), vem crescendo uma visão de foco no tratamento em internações, sobretudo involuntárias e compulsórias. Algo que é previsto em lei com o objetivo de ser usado para dependência química em casos pontuais que se mostrariam exceção está se tornando o principal direcionamento do tratamento. Propostas de tratamento com foco na atenção psicossocial que se realizariam no próprio ambiente do indivíduo vêm ficando em segundo plano, dando lugar a esse antigo ambiente de restrição de direitos maquiado como proposta inovadora.
O discurso não está todo voltado para a involuntariedade, e gostaria de citar um trecho que, em especial, se mostrou bastante engajado com uma proposta humanista: “Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível!”
Prefiro pensar que o papa está mal orientado no tema, e que perceberá as grandes diferenças entre os benefícios do antiproibicionismo e o incentivo ao consumo de drogas, e entre ações voltadas para a vida e a facilitação da ação dos ditos “mercadores da morte”.
Links sugeridos:
Harm Reduction Coalition: harmreduction.org
Blog do PROAD (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes): blogdoproad.blogspot.com
Discurso na íntegra do papa Francisco: http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/2013/07/1316372-leia-a-integra-do-discurso-do-papa-no-hospital-sao-francisco-de-assis-no-rio.shtml
Revisado por Flancieni Ferreira

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03/09/2013

Prefeitura de Belo Horizonte admite entregar canudos para moradores de rua

Prefeitura de Belo Horizonte admite entregar canudos para moradores de rua

Em nota, prefeitura informa que segue política do Ministério da Saúde; pasta nega orientação


Objetivo da distribuição seria evitar transmissão de doenças virais, como Aids e hepatites
Objetivo da distribuição seria evitar transmissão de doenças virais, como Aids e hepatites

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) confirmou que, como O TEMPO tinha publicado em sua edição de ontem, distribui canudos de plástico a usuários de drogas que vivem nas ruas da capital. O objetivo seria evitar o compartilhamento do material e a transmissão de doenças virais, como Aids e hepatites, através de feridas nas mucosas nasais. A prática é alvo de representação apresentada na tarde de ontem ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pela ONG Defesa Social, uma das cinco entidades credenciadas pelo programa Aliança pela Vida, do governo do Estado. A ONG alega que a distribuição facilita o uso da cocaína.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde alegou que segue a política do Ministério da Saúde de redução de danos no atendimento aos dependentes químicos. Já a pasta negou, por meio de assessoria de imprensa, que desenvolva hoje atividades ligadas à política ou que oriente a distribuição do canudo. Nem mesmo a portaria lançada pelo ministério em 2005, com as bases da política de redução de danos, embasa a PBH, já que a distribuição de “insumos” está prevista, mas o uso dos canudos não é citado.

Procurada para comentar o posicionamento do Ministério da Saúde, a secretaria não tinha se posicionado até a noite de ontem.

Polêmica. A política de redução de danos e a distribuição dos itens dividem opiniões das entidades envolvidas na abordagem aos usuários que vivem nas ruas. O Centro de Recuperação de Dependência Química, de orientação evangélica, já adiantou que não irá assinar o manual preparado pela secretaria para orientar as equipes no atendimento, conforme as práticas já adotadas nos consultórios de rua.


O diretor do centro, Wellington Vieira, afirma que a política não pode ser imposta pela prefeitura como única estratégia de abordagem. “Nossa vontade era que a secretaria apoiasse o nosso trabalho. Há mais de 13 anos, estamos na rua oferecendo possibilidades de tratamento. De cada dez usuários que atendemos, sete querem sair do vício”, diz.

Já a coordenadora da Associação Brasileira Comunitária para a Prevenção do Abuso de Drogas, Luciana Matias, acredita que a distribuição de insumos é apenas uma ponta da política, que pode ser usada para criar vínculos com dependentes. “Pode ser uma forma de ganhar a confiança (do dependente) e criar abertura para o diálogo”, disse. Ainda segundo Luciana, a entidade irá assinar o manual, mas vai propor detalhamento das situações em que os materiais devem ser entregues. 

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02/09/2013

Consumo de álcool antes da primeira gravidez aumenta o risco de câncer de mama

Consumo de álcool antes da primeira gravidez aumenta o risco de câncer de mama

A bebida alcoólica já havia sido relacionada anteriormente à doença, mas nova pesquisa revelou que o período entre a primeira menstruação e a primeira gravidez pode deixar a mulher mais vulnerável ao câncer

Mulher e álcool
Bebida perigosa: Beber mais de duas doses de álcool por dia aumenta em mais de 30% o risco de câncer de mama(Thinkstock)
Embora estudos científicos já tenham associado o consumo de bebida alcoólica ao câncer de mama, um novo dado pode facilitar a compreensão dessa relação. De acordo com pesquisa publicada nesta quarta-feira, mulheres que bebem álcool no período compreendido entre a primeira menstruação e a primeira gravidez correm maior risco de ter a doença do que aquelas que passam a beber somente depois da primeira gestação. Para os autores, é possível que isso aconteça pois os tecidos mamários são particularmente sensíveis ao processo de formação do câncer. 
O estudo, feito na Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, está presente na nova edição do periódico Journal of the National Cancer Institute. Ele se baseou nos dados de 91.005 mulheres que deram à luz quando tinham de 25 a 44 anos e que nunca haviam apresentado câncer. As participantes responderam a um questionário sobre consumo de álcool e estilo de vida em 1989 e voltaram a ser avaliadas vinte anos depois.
Quantidade perigosa — Ao final da pesquisa, foram registrados 1.609 casos de câncer de mama. O estudo descobriu que mulheres que ingeriam pelo menos 15 gramas de álcool diariamente — uma quantidade equivalente a duas doses de uma bebida destilada — apresentaram um risco 34% maior de ter câncer de mama do que aquelas que nunca bebiam.
A pesquisa também concluiu que quanto maior o período compreendido entre a primeira menstruação e a primeira gravidez, mais elevado o risco de câncer de mama. Entre as mulheres que não bebiam, aquelas que levaram mais de dez anos para engravidar a partir da menarca tiveram um risco de 26% a 81% maior de desenvolver a doença em comparação com as participantes cujo período foi menor. Para os autores do estudo, reduzir o consumo de álcool durante esse período pode ser uma estratégia de prevenção contra o câncer de mama.

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31/08/2013

Pesquisa mostra que maconha é a droga mais usada no mundo. Heroína é a mais perigosa

Pesquisa mostra que maconha é a droga mais usada no mundo. Heroína é a mais perigosa

Segundo estudo, as consequências para a saúde decorrentes do uso de drogas aumentaram 50% de 1990 a 2010

Maconha: início precoce do uso pode levar à depência química e aumentar riscos de doenças mentais
Maconha: embora seja droga mais usada no mundo, têm menos dependentes do que anfetaminas e opiáceos (Thinkstock)

Um amplo estudo sobre o uso de drogas ilícitas, publicado nesta quinta-feira no periódico The Lancet, mostrou que a maconha é a droga mais usada no mundo, embora as anfetaminas, como o ecstasy, sejam as maiores causadoras de dependência. A pesquisa apontou também a heroína como maior causadora de óbitos, trazendo as consequências mais sérias para a saúde em escala mundial.

Das 78.000 mortes atribuídas ao uso de drogas no ano de 2010, mais da metade (55%) está relacionada aos opiáceos (substâncias derivadas do ópio, narcótico extraído de papoulas), como a heroína. O documento destaca ainda o fato de que a dependência de drogas injetáveis constitui um fator muito importante de exposição e infecção pelos vírus da aids e da hepatite — em decorrência do compartilhamento de seringas e outros materiais.

Embora a maconha seja o entorpecente de maior consumo no mundo, ela apresenta um impacto sobre a saúde menor do que outras drogas, particularmente porque está relacionada a um menor índice de dependência: 13 milhões de pessoas, contra 17,2 milhões de dependentes de anfetaminas e 15,5 milhões de opiáceos.

As consequências para a saúde causadas pelos quatro tipos de drogas estudados — maconha, cocaína, opiáceos e anfetaminas — aumentaram 50% no mundo entre 1990 e 2010, particularmente devido ao aumento do número de consumidores. O estudo relata que os maiores níveis de dependência de cocaína foram encontrados nas Américas.

Drogas lícitas – O estudo afirma que o álcool e o tabagismo são responsáveis por quase 10% da mortalidade total, contra 1% das drogas ilícitas.

É preciso, no entanto, levar em conta que o número de pessoas dependentes de drogas é muito inferior ao de dependentes de álcool e tabaco, por isso eles têm um efeito mais devastador. "É evidente que a utilização de drogas ilegais provoca mais danos em nível individual que as drogas lícitas", escrevem os autores do estudo, liderado por Louisa Degenhardt, pesquisadora da Universidade de Nova Gales do Sul.


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28/08/2013

Especificidade da Contribuição dos Saberes e Práticas das Ciências Sociais e Humanas para a Saúde

Especificidade da Contribuição dos Saberes e Práticas das Ciências Sociais e Humanas para a Saúde 

Specificity of the Contribution of the Knowledge and Practices of the Social and Human Sciences to Health 


Madel Therezinha Luz
Doutora em Política. Professora Titular do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aposentada.

E-mail: madelluz@uol.com.br



Resumo

O artigo trata de questões envolvendo a vida, a saúde e o adoecimento na sociedade atual. Tenta esclarecer as contribuições das ciências humanas e sociais na construção do campo da saúde – principalmente o da saúde coletiva – tanto em nível da pesquisa empírica como nos planos teórico e metodológico. 

Tenta mostrar que tanto categorias analíticas e conceitos como estratégias metodológicas das ciências sociais e humanas são úteis para o esclarecimento de relações entre condutas, estilos de vida, trabalho, valores culturais e o processo saúde/doença. 

Tenta também demonstrar que esse grupo de ciências tem suas próprias formas de expressão e estilo de difusão de conhecimento, que nem sempre são aceitas pelas ciências duras do campo da vida e da saúde, incluindo a medicina e a epidemiologia. Apesar de sua real contribuição para o avanço do campo, podem ser “acusadas” de falta de objetividade ou precisão. 

Os cientistas sociais da saúde coletiva têm que demonstrar, muitas vezes, que os resultados de suas pesquisas, e seu estilo de difusão, são tão científicos quanto os das disciplinas duras.

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