Saiba se você é comprador compulsivo, como a Helô de 'Salve Jorge'
Teste simples alerta para doença crônica chamada oniomania, que pode atingir até 10% da população - a maioria mulheres dos 30 aos 50 anos
Pollyane Lima e Silva, do Rio de Janeiro
Sucesso em Salve Jorge, a delegada Helô não resiste a uma vitrine. Quando enfrenta uma situação de stress ou angústia, o número de sacolas se multiplica. Em casa, tudo vai parar em um armário já abarrotado para, talvez, nunca mais ser visto. O importante é o ato da compra – sempre impensada. Às vezes encarado como capricho, esse tipo de comportamento é hoje entendido como doença crônica, a oniomania, ou popularmente "vício em compras", que pode atingir até 10% da população e exige tratamento psicológico.
A incidência é maior entre as mulheres, na equivalência de cinco para cada homem. São, no geral, pessoas economicamente ativas e na faixa etária entre 30 e 50 anos, descreve Renata Maransaldi, psicóloga da equipe de Compras Compulsivas do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (Pro-Amiti) do Hospital das Clínicas de São Paulo. Perfil no qual também se encaixa a personagem delegada de Giovanna Antonelli. A exposição do problema em horário nobre na TV, aliás, já tem reflexos nos atendimentos. Até meados de abril desse ano, 37 pacientes contataram o Pro-Amiti em busca de ajuda profissional – o que equivale a quase metade dos tratamentos iniciados em todo o ano passado (75).
A oniomania não faz distinção entre ricos e pobres, apesar de uma das principais consequências ser o endividamento. “Essas mulheres, no geral, compram muitos itens iguais, de todas as cores possíveis. Roupas, principalmente. Mas quase nunca conseguem usar o que têm. São armários e armários acumulados com coisas desnecessárias e, muitas vezes, repetidas”, explica a psiquiatra Analice Gigliotti, chefe do Setor de Dependência Química e Outros Transtornos do Impulso da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Antes de comprar, acrescenta ela, a sensação é de excitação, ansiedade, depois substituída por alívio. É uma satisfação pela compra, não necessariamente pelo novo produto, enfatiza Renata.
Sintomas - A doença ainda pode estar associada a outro distúrbio psiquiátrico, observa a psicóloga, como bipolaridade ou depressão. Um sintoma facilmente observado, destaca Analice, chama-se crazen. Característico dos dependentes de drogas, é observado quando a pessoa começa a ocupar boa parte de seu dia só pensando nas compras. “Aos poucos, ela se preocupa cada vez mais em comprar. Depois, passa a achar que precisa de quantidades maiores. Até que vêm os prejuízos e, geralmente, a mentira para encobrir o descontrole”, detalha a psiquiatra. A descrição remete a outra personagem da ficção, a protagonista do filmeOs Delírios de Consumo de Becky Bloom (lançado em 2009).
Quando o paciente – ou algum familiar – se dá conta do que está por trás daquilo que, erroneamente, pode ser confundido com futilidade no início, já luta contra prejuízos financeiros, sociais e familiares. É esse sofrimento do comprador compulsivo que o diferencia de um simples consumista. Nessa hora, a pessoa recorre à ajuda profissional. O tratamento envolve acompanhamento psicológico, psiquiátrico e terapia ocupacional. Medicação é necessária, em alguns casos. Após um ano, em média, é possível perceber um bom nível de controle. “Quando se fala em doenças psiquiátricas não é apropriado se falar em cura, mas sim em melhora de sintomas”, esclarece Renata.
Nas terapias em grupo, em que pessoas com problemas similares dividem suas experiências (a exemplo dos alcoólicos anônimos), obtém-se orientações básicas que podem ajudar no controle pós-tratamento. Primeiro, a pessoa descontrolada pode indicar alguém da família para cuidar do seu dinheiro. Também é importante evitar passar em shoppings ou por lojas onde já comprou muito, para não correr o risco de ser abordado por aquele vendedor que estimula o consumo. “Trabalhamos ainda técnicas de controle dos sentimentos. Afinal, a gente tem que se virar de outra forma para lidar com sentimentos que são desagradáveis, como tristeza e ansiedade. A questão é o que fazer que não será prejudicial a você”, diz Analice.
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