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16/02/2014

Inevitavelmente, a sociedade terá de se abrir mais para o debate das drogas

‘Inevitavelmente, a sociedade terá de se abrir mais para o debate das drogas’

ESCRITO POR GABRIEL BRITO


Mais uma vez, o ano da cidade de São Paulo começa com uma operação do poder público na Cracolândia. No entanto, contrariamente à famigerada operação “dor e sofrimento” empreendida pelo governo estadual tucano, nos inícios de 2012, o programa Braços Abertos, da prefeitura petista de Fernando Haddad, aparece com uma nova proposta de relação e tratamento com os dependentes, tentando oferecer condições de inseri-los socialmente ao mesmo tempo em que se tenta administrar a dependência química.

Para discutir o programa recém-lançado, o Correio da Cidadania entrevistou o médico psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor da Unifesp e conhecido nos debates e propostas anti-proibicionistas, que vão na direção contrária da doutrina de guerra às drogas – cada vez mais contestada e desmistificada.

“Penso que a proposta da prefeitura é a única que tem alguma fundamentação. Embora seja uma inovação, em termos de Brasil, já foi testada em vários países de ponta e é a única coisa que funciona. Internação compulsória é uma situação de artificialidade”, explica Dartiu, que não tem dúvidas em ressaltar o fracasso do modelo anterior, algo já reconhecido inclusive por quem o elaborou, isto é, os EUA.

“Na verdade, o que vemos na Cracolândia é que o uso de drogas não é necessariamente maior do que em outros grupos. O que choca é por ser na população de rua, o que tem muita visibilidade”, afirma, indicando que ainda teremos de discutir mais abertamente a relação de toda a sociedade, ou ao menos boa parte dela, não só com o crack, mas também com diversas outras drogas, consumidas em todas as escalas socioeconômicas.

Correio da Cidadania: Primeiramente, como você avalia o programa Braços Abertos, recentemente lançado pela prefeitura de São Paulo, cujo objetivo é interferir no cotidiano da população da Cracolândia? Trata-se de uma derrota da ideia da “internação compulsória”?

Dartiu Xavier da Silveira: Penso que a proposta da prefeitura é a única que tem alguma fundamentação. Embora seja uma inovação, em termos de Brasil, já foi testada em vários países de ponta e é a única coisa que funciona.

Internação compulsória é uma situação de artificialidade. Tira-se o indivíduo da rua e ele fica preso, o que na verdade é um modelo mais carcerário do que de tratamento de saúde. Enquanto está preso, é claro que não usa droga. Mas, quando volta pra sua vida, com todos os problemas, há a recaída. Mais de 90% recaem.

A internação compulsória é artificial, pois é preciso melhorar as condições básicas da vida do usuário. Mesmo porque na Cracolândia, e em outros lugares, as pessoas não chegaram àquela situação de miséria social por causa da droga. Chegaram naquela situação por falta de acesso à moradia, trabalho, educação, saúde...

E em situações de tanta vulnerabilidade social, favorece-se o uso das drogas. Mas ele é consequência. E a proposta do Braços Abertos busca atingir a causa do problema, e não só uma consequência, um desdobramento, como no caso do uso da droga.

Correio da Cidadania: Alguns analistas, mesmo reconhecendo os avanços dessa atual abordagem, não deixam de considerar que se trata ainda de medidas um tanto autoritárias, pois não resultaram de uma interação efetiva com a população, avaliando mais profundamente suas aspirações e condição física. Com o que os resultados finais acabarão incidindo sobre a ‘limpeza da cracolândia’, apenas de forma menos arbitrária. O que pensa disto?

Dartiu Xavier da Silveira: O programa não é nem um pouco truculento, pois ninguém é obrigado a fazer nada, nada é arbitrário ou coercitivo. Não dá pra comparar com internação compulsória ou justiça terapêutica.

Internação compulsória e justiça terapêutica são afrontas aos direitos humanos, cerceiam a liberdade individual e o direito de ir e vir. Violam garantias constitucionais.

Correio da Cidadania: O que pensa a respeito da ação da polícia civil, que fez incursão pelas ruas dessa conhecida zona de consumo e tráfico de drogas, de forma inesperada e violenta?

Dartiu Xavier da Silveira: Aquilo é ostensivo... Sabendo da proposta do programa Braços Abertos, foi de encontro total à operação da prefeitura. Eu entendo como boicote, um boicote civil.

Fala-se que a polícia civil teria entrado em cena porque a operação Braços Abertos teria ameaçado a lucratividade do tráfico. Muita gente que lucra com isso por ali no centro se incomodou, pois está ameaçada de ganhar menos dinheiro.

É o que se fala. Se for verdade, caímos nas velhas histórias de corrupção.

Correio da Cidadania: Acredita que tal situação esteja, mesmo involuntariamente, protagonizando um choque de interesses políticos entre distintas correntes e partidos?

Dartiu Xavier da Silveira: Não sei se chega a ser assim, porque na verdade sabemos que a política do Estado é diferente da política da prefeitura. A política do Estado é coercitiva, repressiva, baseada em modelos já ultrapassados.

Pra se ter uma ideia, esse modelo defendido pelo governo estadual é praticado apenas em países tradicionalmente afrontosos aos direitos humanos, basicamente China e países islâmicos, ou seja, fundamentalistas. Hoje em dia, nem os EUA, com seu passado de “guerra às drogas”, aceitam mais tal tipo de política pública.

Correio da Cidadania: O que pensa a respeito da repercussão social e especialmente midiática da operação lançada pela prefeitura?

Dartiu Xavier da Silveira: Dei muitas entrevistas nessas últimas semanas e o que me incomodou um pouco foi que a maioria dos jornalistas já tinha uma opinião prévia e formada. Assim, eu tinha de desconstruí-las, porque eles já tinham uma visão negativa a respeito de uma política do tipo. Desse modo, vejo que a mídia tem uma tendência mais reacionária. Apesar disso, creio que está reagindo bem. Algumas matérias são muito boas, outras são francamente reacionárias.

Já no público, acho que a ideia da prefeitura é bem aceita. Inclusive na Cracolândia, a população responde muito favoravelmente. Eles veem que aquela postura mais repressiva e agressiva fomenta muita violência. Agora há uma postura de colaboração, e a população está vendo de forma bem favorável.

Correio da Cidadania: Que políticas você pensa que poderiam ser de fato efetivas para lidar com uma situação como a da Cracolândia, especialmente no que se refere à dependência química, de modo geral? Como o sistema de saúde pode ser inserido nessa questão?

Dartiu Xavier da Silveira: Embora a iniciativa tenha saído da Secretaria do Trabalho, a proposta do Braços Abertos, nasceu no campo da saúde, foi uma ideia da saúde. Porque já se constatou que, embora exista um sistema de saúde muito interessante (o sistema CAPS-AD - Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas -, o que há de mais eficiente hoje em dia), ficava-se enxugando gelo. Não basta abordar o indivíduo pelo ponto de vista médico e psicológico se ele não tem onde morar, tomar banho, comer, trabalhar... Portanto, a lógica é essa.

Correio da Cidadania: Em que estágio acredita estarmos, no contexto nacional, em termos de tratamento da dependência química e também a maneira como a sociedade convive com essa realidade?


Dartiu Xavier da Silveira: Eu acho que nossa sociedade é bastante reacionária. Ficamos muito tempo copiando o modelo de guerra às drogas, um modelo lançado na década de 70 pelos EUA. Na década de 90, os EUA fizeram uma série de pesquisas e constataram que era tudo falho, que o programa de guerra às drogas não valia nada.

Inclusive, saiu uma avaliação muito criteriosa em 1991, dizendo “guerra ás drogas é uma ilusão. Não funciona pra coibir uso, dependência, não funciona pra nada”.

Apesar dessa mudança de postura, o Brasil continuou a copiar o modelo, que ainda tem prestígio por aqui. Existe uma mudança nos últimos anos, uma tendência de se abrir mais ao modelo europeu, que é mais eficaz e vai no sentido da redução de danos.

Porém, ainda há muita resistência aqui, justamente por conta da postura reacionária de nossa sociedade.

Correio da Cidadania: Acredita que essa experiência possa ajudar na introdução de um debate mais aberto a respeito da legalização e controle de consumo de certas drogas, inclusive outras que não a maconha?

Dartiu Xavier da Silveira: Acho que tudo que está se levantando são coisas que inevitavelmente teremos de debater. O mundo inteiro está debatendo e não vamos ficar pra trás, né? Nosso vizinho já legalizou a maconha, não podemos fingir que nada está acontecendo.

O programa Braços Abertos não tem uma proposta de legalização, longe disso. Mas claro que levanta uma série de questões. Não adianta forçar uma pessoa a não usar drogas. Assim, não se está ajudando a pessoa a resolver seu problema de dependência. É isso que o programa está demonstrando. Quer ajudar? Precisa oferecer trabalho, moradia, qualidade de vida. Assim que se ajuda a pessoa a administrar sua relação com as drogas.

Correio da Cidadania: Você enxerga mais feridas a se tocar, na relação da sociedade com as drogas?

Dartiu Xavier da Silveira: Creio que sim. Penso que inevitavelmente cairemos nisso. Na verdade, o que vemos na Cracolândia é que o uso de drogas não é necessariamente maior do que em outros grupos. O que choca é por ser na população de rua, o que tem muita visibilidade. Mas as pessoas que estão nos bairros ricos de São Paulo, em seus apartamentos, cheirando cocaína ou fumando maconha, não têm visibilidade. Ficam como população escondida, anônima, e grande parte delas não é dependente, é apenas usuária da droga. No entanto, quando se vê o usuário de droga na rua, ele já recebe o rótulo de dependente.

Gabriel Brito é jornalista do Correio da Cidadania.

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10/02/2014

How to Stop Heroin Deaths

How to Stop Heroin Deaths

By ROBERT S. HOFFMAN
PHILIP SEYMOUR HOFFMAN, who died of an apparent heroin overdose on Sunday, was just one of hundreds of New Yorkers who fall victim to this drug each year. Heroin-related deaths increased 84 percent from 2010 to 2012 in New York City and occur at a higher rate — 52 percent — than overdose deaths involving any other substance.

I am an emergency physician at NYU Langone Medical Center and Bellevue Hospital, but I rarely see victims die of heroin overdose because most fatalities occur before patients get to the hospital. Overdoses often take place over one to three hours. People just slowly stop breathing; often they are assumed to be sleeping deeply, or they are alone.

The most frustrating part is that each of these deaths is preventable, because there is an antidote to heroin overdose that is nearly universally effective. Naloxone, an opioid antidote, is a simple compound that has been in clinical use for more than 30 years. It can be administered via needle or as a nasal spray, and it works by displacing heroin from its receptors in the brain and rapidly restoring the overdose victim to consciousness and normal breathing.

An analysis in the Annals of Internal Medicine last year suggested that up to 85 percent of users overdose in the presence of others. This provides an opportunity for friends, family and other non-health care providers to intervene. In New York State, it has been legal to distribute naloxone to ordinary citizens since 2006. But the distribution has to be done with medical supervision. Naloxone is purchased by the city and state health departments, which then distribute the antidote through hospitals, harm-reduction programs and other outlets at no cost to patients.

Some New York City hospitals are now distributing kits containing naloxone to users and their friends and families. For the past three years, the New York City Department of Homeless Services has administered naloxone in shelters. And a new pilot program on Staten Island — which has the highest rate of heroin overdose deaths in New York City — is supplying the antidote through the Police Department’s 120th Precinct there.

The city’s health department is conducting a large study following people who get naloxone to assess how frequently the antidote is used to reverse overdose. In 2012, the health department filed a public letter to the Food and Drug Administration recommending that the F.D.A. approve naloxone for over-the-counter use. The letter stated that more than 20,000 kits had been distributed in New York City. It also noted that more than 500 overdose reversals had been reported by civilians who had administered the antidote.

Some people might argue that the widespread distribution of a safe, effective and inexpensive antidote might actually encourage drug use. But that’s like suggesting that air bags and seatbelts encourage unsafe driving. Naloxone is a public-health method of intervening when a life is in the balance. Its distribution is endorsed by the American Medical Association.

A new bill that would make it easier for users to obtain naloxone was introduced in the New York State Legislature just last week, and on Tuesday it passed the State Senate Health Committee. It would increase access to the antidote by allowing doctors and nurses to write standing orders — prescriptions that can be used for anyone — and issue them to community-based drug treatment programs. The programs would then train people on the signs of overdose and provide them with the naloxone kits. This means that the programs would not have to have a doctor present to distribute the antidote, overcoming one major hurdle that impedes widespread distribution.

This bill empowers a community to protect itself and others. If the bill becomes law, it would be one step closer to making naloxone available over the counter — as it already is in Italy.

According to the Centers for Disease Control and Prevention, drug overdose is now the leading cause of injury-related fatalities in the United States, ahead of motor-vehicle collisions and firearms accidents. We make cars safer by having speed limits, seatbelts, crumple zones and D.W.I. laws. We make it harder to buy a firearm with background checks and waiting periods, and we teach gun safety and sometimes mandate trigger locks. We can make heroin safer, too, by supplying methadone or buprenorphine as medications to treat physical dependence, providing clean needles to help prevent the spread of hepatitis and H.I.V., and facilitating the wide availability of naloxone to counteract overdoses.

While Mr. Hoffman’s death was without a doubt a tragedy, it is also emblematic of a societal need to take action to prevent the hundreds of deaths that otherwise go largely unnoticed. We can’t control heroin — that’s the job of law enforcement — but we can make it safer.


Robert S. Hoffman is an emergency physician at NYU Langone Medical Center and Bellevue Hospital and the director of the Division of Medical Toxicology at the New York University School of Medicine.

09/02/2014

Prefeitura de SP faz balanço do programa 'Braços Abertos'

Prefeitura de SP faz balanço do programa 'Braços Abertos'
Programa municipal oferece abrigo e emprego para dependentes de crack. Ao lado de secretário estadual, Haddad diz que PM tem apoiado ação.
A Prefeitura de São Paulo divulgou nesta quarta-feira (29) um balanço dos primeiros dez dias do programa “Braços Abertos” e informou que o número de participantes aumentou e que houve até procura por parte de pessoas que não moravam na região e não eram usuárias de drogas.

O programa é uma nova tentativa de combater o uso de drogas na região da Cracolândia. Foram feitos 1.394 abordagens pela Prefeitura, sendo 127 foram atendimentos médicos, nos quais a Prefeitura prestou assistência a nove grávidas, que terão acompanhamento pré-natal. O balanço do atendimento em saúde dá conta ainda de que 101 abordagens foram realizadas pelas equipes de Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Prefeitura, sendo que 53 iniciaram tratamento. 

Desde que começou, o programa já cadastrou 386 pessoas, contando pessoas que aderiram na terça-feira (28). O número é perto das 400 vagas disponibilizadas pela Prefeitura - número de vagas disponíveis nos hotéis da região que firmaram parceria com a prefeitura. 

Segundo a secretária de Assistência Social, Luciana Temer, houve um “efeito colateral interessante para a assistência social”, com procura de pessoas que não eram da região ou usuários de drogas. Foram encaminhados para outros equipamentos de assistência social 349 homens e 24 mulheres. “Explicamos que não era o caso de inserção, até por que não eram usuários de drogas”, afirmou a secretária. 

“Luz, Campos Elíseos, são bairros importantes da cidade e nós estamos resgatando isso para todos os paulistanos”, disse o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Ao lado do secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Fernando Grella, Haddad exaltou a ação da Polícia Militar e disse haver um “combate permanente e bem sucedido” do tráfico por parte da PM. 

“Esse trabalho tem por fim não deixar que ali se torne uma zona livre de tráfico de entorpecentes.” “Todo tipo de união de forças é válido”, afirmou o secretário Fernando Grella. Ambos consideraram a ação do Denarc, que culminou com o uso de bombas de efeito moral, um episódio superado. 

As ações de desmonte de barracos ocorreram entre 14 e 15 de janeiro. No dia 16, os usuários começaram a trabalhar. O balanço divulgado pela prefeitura considera o período entre os dias 17 e 27. No período, a Polícia Militar prendeu 25 pessoas na região. 

O programa consiste em pagar R$ 15 por dia trabalhado aos usuários por trabalhos de zeladoria. Futuramente, elas farão cursos de habilidades específicas que já possuem por atividades que desenvolviam antes de se tornar usuárias de drogas.

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02/02/2014

Pesquisadores fazem manifesto contra ação policial na Cracolândia

Pesquisadores fazem manifesto contra ação policial na Cracolândia


Grupo de 59 cientistas que estudam questões relacionadas a drogas dizem que confronto foi 'inaceitável'




Giovana Girardi - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Um grupo de 59 pesquisadores que estudam o fenômeno das drogas divulgaram nesta quarta-feira, 29, um manifesto contra a ação da Polícia Civil na semana passada na Cracolândia. Na ocasião, policias do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) entraram em confronto com dependentes usando bombas de efeito moral e balas de borracha, conforme presenciado pela reportagem doEstado.
Veja também:

“(É) inaceitável em um contexto democrático este tipo de ação da polícia, que retroalimenta um quadro intolerável de violência, sabidamente amplificado e ao mesmo tempo tolerado em razão da ‘guerra às drogas’, uma guerra feita contra pessoas – notadamente as que estão em condição de maior vulnerabilidade social”, escrevem.
“O que a gente percebe é que desde que o assunto drogas está na pauta do governo, repetem-se modelos antigos de ação repressora ao usuário, que o colocam em um ambiente fechado, como os antigos hospitais psiquiátricos. É  recurso público investido nisso há bastante tempo que simplesmente não dá resultado”, afirmou ao Estado a pesquisadora Andrea Gallassi, de Terapia Ocupacional da UnB, que organizou a realização do manifesto.
O texto é assinado por pesquisadores notórios por estudos com drogas, como Dartiu Xavier, da Unifesp, e Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Andrea afirma que nesse cenário, o programa Braços Abertos, da Prefeitura de São Paulo, surge como uma abordagem inédita de tentar resolver o problema. “É baseada na reintegração dessas pessoas, em não olhar somente para a questão da dependência, mas para as outras necessidades dessa população, como moradia, emprego. Ele acabou de começar, mas valorizamos essa mudança do foco: menos repressão e mais integração, por isso temos medo do impacto que uma ação equivocada possa ter”, disse, para em seguida afirmar que o manifesto não pretende ser partidário.
Leia a seguir a íntegra do manifesto:
NOTA PÚBLICA DOS PESQUISADORES E ACADÊMICOS DAS ÁREAS DA SAÚDE, CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CONTRA A ACÃO DA POLÍCIA CIVIL NA REGIÃO DA CRACOLÂNDIA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO OCORRIDA NA ÚLTIMA QUINTA-FEIRA
A ação violenta liderada pela polícia civil do estado de São Paulo na região conhecida como Cracolândia, ocorrida na última quinta-feira, foi assunto que ocupou uma boa parte da mídia, gerou pronunciamentos divergentes de políticos e provocou reações diversas entre os brasileiros. Alguns se posicionaram a favor da medida, alegando que a ação policial é realmente o caminho para se ‘acabar’ com o uso e o tráfico de drogas; outros apontaram como bastante desastrosa, além de criminosa, uma ação que levou violência para pessoas já bastante expostas a ela e para uma região que, mais recentemente e de maneira inédita em sua história, vem apostando em alternativas de cuidado e integração social.
Baseado nisso, nós, representantes da sociedade civil, pesquisadores e acadêmicos das áreas da saúde, ciências sociais e jurídicas que nos dedicamos a estudar o fenômeno das drogas, nas suas mais diversas interfaces, achamos por bem nos posicionarmos com relação ao ocorrido, com o objetivo de destacar pontos importantes que nos fazem assumir como inaceitável em um contexto democrático este tipo de ação da polícia, que retroalimenta um quadro intolerável de violência, sabidamente amplificado e ao mesmo tempo tolerado em razão da “guerra às drogas”, uma guerra feita contra pessoas, notadamente as que estão em condição de maior vulnerabilidade social.
Não é com pouca frequência que usuários de drogas, em especial de crack, são associados a imagens de zumbis ou de outros seres repugnantes, na tentativa de evitar, por meio da sensação de nojo ou de espanto, que jovens tenham contato com estas substâncias, pois se tiverem se tornarão um deles. Esta mensagem, além de não apresentar a efetividade desejada, acaba por gerar um efeito colateral ainda pior, que é o de provocar na população a sensação de que estas pessoas poluem, são sujas, perigosas e, portanto, não tem valor. O procedimento é claro: cria-se um léxico que as alocam em um imaginário monstruoso, que torna possível jogá-las para fora da humanidade e, no mesmo passo, vulneráveis a toda espécie de arbitrariedade. A entrada da policia nesta região, usando balas de borracha e ferindo sem critérios, é a representação oficial desta desvalia, na qual se chancela a violação de direitos já bastante violados e se enaltece o preconceito e o estigma de que eles realmente não valem nada; suas vidas são menos vidas, seu sofrimento ignorado, e a relação que se estabelece com o uso do crack é utilizada como uma justificativa para o uso da violência e o abuso de poder contra esta população.
Pesquisas recentes quantitativas e qualitativas sobre uso de crack no país, entre as quais se destaca a realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, mostraram que, dentre as pessoas que frequentam os espaços chamados de cracolândias, há uma epidemia de desigualdade social, pobreza, falta de acesso a direitos básicos, incluindo moradia.
O projeto excludente da vida nos grandes centros urbanos, centrado no consumo, insustentável a longo prazo para populações inteiras, se repõe, pelo avesso, quando o abuso de substâncias é a ele articulado, evidenciando o sintoma, não a causa, de mazelas sociais e tornando visível o fracasso de escolhas políticas e culturais.
As vulnerabilidades relacionadas ao uso do crack são apenas o resultado das condições sociais e das contínuas e falidas políticas públicas repressivas e criminalizantes direcionadas aos seus usuários. Do mesmo modo, as políticas públicas são, também, sintomas, de certa maneira, de se olhar para o usuário, compreender os problemas, suas causas e possíveis soluções, focando, principalmente, no sujeito e em suas condições sociais e culturais.
Assim como na boa abordagem científica, na qual os erros são momentos valiosos para qualquer aprendizado, com as políticas públicas não deveria haver qualquer diferença. Programas como o de “Braços Abertos”, que ocorre hoje na Prefeitura de São Paulo, têm demonstrado, de modo incipiente porém em curso, uma boa receptividade entre os próprios usuários, ao agir sobre os sintomas de um problema ao invés de tentar extinguir as pessoas que dele sofrem.
Os maiores avaliadores do projeto devem ser os próprios usuários e, a julgar pelos iniciais depoimentos deles, não há como ignorar o grau de qualidade ofertado por este programa da prefeitura de São Paulo, tal como nenhuma ação repressiva jamais pôde incentivar, e tal como nenhuma instituição de tratamento fechada e isolada do convívio urbano teve a capacidade de promover. Observamos, entretanto, a necessidade de seguir um acompanhamento qualificado e um monitoramento para exercícios inclusivos na sociedade, que promovam saúde, bem-estar e incentivem projetos de vida. Apoiamos ações políticas de cunho social focadas no sujeito e na promoção do resgate da cidadania deste grupo já tão deserdado e vitimizado pelas iniquidades sociais em que são submetidos diariamente.
O uso arbitrário de medidas repressivas e violentas é uma grave violação dos direitos individuais e coletivos e deve ser tratado como tal. Se há décadas tentou-se ampliar a dose de um remédio que têm demonstrado efeitos adversos preocupantes – a repressão policial contra os consumidores das drogas – é chegada a hora de modificar a perspectiva, de superar as próprias dificuldades de discernimento, de tentar abrir os braços ao invés de cerrar os punhos. Só poderemos oferecer saídas a um problema quando deixarmos de fazer parte dele.
1. Adriana Eiko Matsumoto, psicóloga, professora da PUCSP
2. Aldo Zaiden, psicólogo, membro da Rede Pense Livre
3. Alessandra Oberling, antropóloga, membro da Rede Pense Livre
4. Ana Regina Noto, farmacêutica, professora da UNIFESP
5. Ana Rosa Sousa, mestre pela UNIFESP 
6. André Bedendo, doutorando pela UNIFESP
7. André Kiepper, Analista de Gestao em Sáude da Fundação Oswaldo Cruz
8. Andrea Gallassi, terapeuta ocupacional, professora da UnB
9. Beatriz Vargas, advogada, professora da UnB
10.Bruno Ramos Gomes, psicólogo, coordenador do Centro de Convivência É de 
Lei – Redução de Danos em SP 
11. Cassia Baldini Soares, professora da Escola de Enfermagem da USP
12. Carla Zuquetto, mestre pela UNIFESP 
13. Carolina Botéquio, mestranda pela UNIFESP 
14. Clarissa M. Corradi-Webster, psicóloga, professora da USP
15. Celi Cavallari, psicóloga, conselheira da Rede Brasileira de Redução de Danos e 
Direitos Humanos (REDUC) e membro da Associação Brasileira Multidisciplinar 
de Estudos sobre Drogas (ABRAMD)
16. Cristiano Maronna, advogado, membro do IBCRIM
17. Danielle Vallim, socióloga, doutoranda visitante da Universidade de Columbia
18. Danilo P. Locatelli, psicólogo, mestre pela UNIFESP
19. Dartiu Xavier da Silveira, médico psiquiatra, professor da UNIFESP
20. Denis Petuco, cientista social, redutor de danos, doutorando pela UFJF
21. Denis Russo Burgierman, diretor de redação da revista Superinteressante
22. Diogo Busse, advogado
23. Emérita S. Opaleye, doutora pela UNIFESP 
24. Eroy Aparecida da Silva, psicóloga, membro da ABRAMD
25.Flávia Fernando, psiquiatra, preceptora da residência em psiquiatria no Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro
26. Helena Maria Becker Albertani, educadora, membro da ABRAMD
27. Henrique Carneiro, historiador, professor da USP
28. Ilana Mountian, pesquisadora do Instituto de psicologia da USP
29. João Menezes, neurocientista, professor da UFRJ
30. Jorgina Sales Jorge, enfermeira, professora da UFAL
31. Julita Lemgruber, socióloga, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)
32. Luciana Boiteux, advogada, professora da UFRJ
33. Luis Fernando Tófoli, psiquiatra, professor da UNICAMP
34. Marcelo Sodelli, psicólogo, professor da PUC-SP, membro da ABRAMD
35. Marcelo da Silveira Campos - doutorando na USP
36. Maria Angélica de Castro Comis, psicóloga, Centro de Convivência É de lei, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Saúde e Uso de Substância (NEPSIS)
37. Maria de Lurdes S. Zemel, psicanalista, membro da ABRAMD
38. Maria Teresa Martins Ramos Lamberte, psiquiatra, Instituto da Criança do Hospital das Clinicas de São Paulo
39. Mariana Adade, psicóloga, pesquisadora convidada da Fiocruz RJ
40. Marisa Feffermann, pesquisadora do Grupo de Estudos em Direito e Sexualidade da USP.
41. Marta Jezierski Vaz, psiquiatra da UNIFESP
42.Maurício Fiore, antropólogo e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.
43. Maurides de Melo Ribeiro, advogado, membro do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
44. Mayra Machado, mestranda pela UNIFESP 
45. Osvaldo Fernandez, antropólogo, professor UNEB,
46. Paulo Cesar Duarte Paes, pesquisador da Escola de Conselhos/UFMS
47. Paulo Mattos, advogado, mestre em Saúde e Ambiente
48. Rafael Gil Medeiros, cientista social e redutor de danos
49. Renato Filev, neurocientista, doutorando pela UNIFESP
50. Renato Malcher Lopes, neurocientista, professor da UnB
51.Rubens Adorno, antropólogo, membro do Grupo de Estudos sobre Drogas e Sociedade da Universidade de São Paulo (GEDS - USP).
52. Sandra Lucia Goulart; antropóloga, professora da Faculdade Cásper Líbero
53.Silvia Brasiliano, psicóloga do Programa da Mulher Dependente Química da USP
54. Sidarta Ribeiro, neurocientista, professor da UFRN
55. Tatiana C. Amato, doutoranda pela UNIFESP 
56.Taniele Rui, socióloga, pós-doutoranda bolsista da SSRC-Drugs, Security and Democracy
57. Víviam Vargas de Barros, doutoranda pela UNIFESP
58. Vera da Ros, psicóloga, membro da REDUC
59. Yone Gonçalves de Moura, psicóloga, membro da ABRAMD

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26/01/2014

Phillip Morris Introduces Marlboro Marijuana Cigarettes

Phillip Morris Introduces Marlboro Marijuana Cigarettes


marijuana-cigarettes

Phillip Morris, the world’s biggest cigarette producer, announced today that they will join the marijuana legalization bandwagon and start producing marijuana cigarettes. Marketed under the brand “Marlboro M”, the cigarettes will be made available for sale through marijuana-licensed outlets in the state of Colorado, and the state of Washington when it becomes commercially legal there later this year.
Serafin Norcik, Phillip Morris’ Sr. Vice President for Marketing said in an interview that the company has been high on the idea of marketing cannabis, and has been monitoring the market for some time. It was only when the recent legalization initiatives — winning in Colorado and Washington — that they finally made the decision to take a leap of faith.
Norcik added that they have begun contacting former drug lords in Mexico and Paraguay, currently the largest marijuana-producing countries in the world, for the possibility of setting up a distribution ring across the North and South American continents, to streamline the supply lines.
Since only tobacco products are currently banned in advertisements and promotions in the United States, Phillip Morris also has set aside a huge $15 billion advertising budget just to promote the new “Marlboro M” and are now negotiating with major networks and publishers, to start marketing the product to consumers in the beginning of 2015.
Norcik also revealed that a big initial push is planned around January next year, and have acquired most of the ad airtime for Superbowl XLIX. However, since marijuana will be legal only in Colorado and Washington during the 2015 Superbowl, all the ads will be blacked out in all other States and will only show a static “M” logo with smoke blowing in the background, for the duration of the ad.
Phillip Morris shares hit an all-time high on the marijuana news and shot up to $998.00 from $83.03 just a few hours after the announcement went public.

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