Vacina contra heroína se mostra promissora em cobaias
Ainda em fase pré-clínica, a vacina rompeu o ciclo vicioso ao evitar que ratos de laboratório consumissem a droga compulsivamente
Usuários de heroína em Cali, Colômbia, em 3 de abril (Luis Robayo/AFP)
Uma vacina experimental testada em ratos de laboratório se mostrou promissora contra o vício em heroína. De acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira no site do periódico PNAS, a vacina age na heroína e nos produtos derivados de sua degradação presentes na corrente sanguínea. Assim, ela consegue evitar que a droga chegue ao cérebro. O estudo foi coordenado pelo professor Kim Janda, do Instituto de Pesquisas Scripps (TSRI), na Califórnia.
Se a vacina funcionar da mesma maneira em testes clínicos com humanos, poderá se tornar a terapia padrão para o tratamento de dependentes de heroína, que somam mais de 10 milhões em todo o mundo. "Normalmente, os ratos submetidos à heroína que são privados da droga voltam a consumi-la compulsivamente assim que podem. No entanto, isso não ocorre após a aplicação da vacina", disse George Koob, coautor do estudo e pesquisador doTSRI.
A estrutura das moléculas das drogas mais conhecidas — como a heroína — costumam ser muito pequenas e simples para estimular suficientemente o sistema imunológico. Os pesquisadores conseguiram superar esse obstáculo ao unir fragmentos de moléculas do entorpecente com proteínas maiores e mais propensas a provocar reação do sistema imunológico. Conseguiu-se, então, evitar que ratos consumissem cada vez mais heroína, quebrando o círculo vicioso que afeta os dependentes. "Isso com apenas uma vacina, o que é ideal para o ser humano", comentou Joel Schlosburg, um dos autores do estudo.
Heroína — Desenvolver uma vacina contra a heroína é particularmente difícil, porque a droga se desintegra rapidamente depois de injetada no sangue. "A droga, metabolizada, se converte em uma substância chamada 6-acetilmorfina, que entra no cérebro e causa a maioria dos efeitos da droga", disse Kim Janda. A equipe desenvolveu, então, uma vacina que não visa apenas atingir a heroína, mas também a 6-acetilmorfina. "A vacina rastreia a droga conforme ela é metabolizada, mantendo os produtos da sua quebra longe do cérebro. É esse detalhe, acredito, que explica seu sucesso."
A vacina contra a heroína é uma das diversas que vem sendo desenvolvidas pelo Instituto Scripps desde a década de 1990. As vacinas contra a cocaína e a nicotina já são testadas em humanos, e uma vacina experimental contra a dependência de metanfetaminas está prestes a ser aplicada em humanos. De acordo com os pesquisadores, a vacina dará aos dependentes de heroína, ao lado de outros tratamentos, a oportunidade de romper o vício.
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