Tradutor (incluindo Português)

Mostrando postagens com marcador Palhaço. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Palhaço. Mostrar todas as postagens

10/09/2013

TEM PALHAÇO NO PROAD

TEM PALHAÇO NO PROAD
Flávio Falcone


Há 7 meses, colaboro com o acolhimento do PROAD atendendo adultos que enfrentam a problemática da dependência química. Minha ferramenta de trabalho é a arte do riso. Utilizo técnicas de treinamento de palhaço para oferecer aos pacientes uma possibilidade de se renovar o olhar para suas vidas.

O treinamento do palhaço passa pelo entendimento de que tudo é risível e  revela o estado de graça de todas as coisas. O palhaço expressa a perplexidade da criança diante do mundo. Um estado em que não há julgamento moral. Onde todos os tabus deixam de ser uma ameaça e se tornam inofensivos. A sensação provocada por uma gargalhada é a de plenitude, de gozo, de satisfação. É a conciliação entre os opostos da consciência (bem/mal, certo/errado, masculino/feminino).
Para a psicologia analítica, o riso mobiliza o contato da consciência com a função transcendente, pois no riso o homem se funde ao seu estado de origem “divina” e primitiva. Muitos comparam esse estado com a sensação do útero materno. É o retorno ao mundo do sagrado, do numinoso, cuja plenitude se confunde com a do estado primordial. É o avesso do cotidiano, a ruptura com as atividades sociais, o esquecimento do profano, um contato revigorante com o mundo dos deuses e dos demônios que controlam a vida.
Para o autor Edward Edinger, a experiência do numinoso é de extrema importância em processos de transformação psíquica. O contato com o estado primitivo é o contato com o estado de pura potencialidade, de onde pode uma nova forma ou atualidade surgir. Segundo Edinger, “os aspectos fixos e desenvolvidos da personalidade não permitem mudanças. São sólidos, estabelecidos e certos de sua correção. Somente a condição original – indefinida, fresca e vital, mas vulnerável e insegura -, simbolizada pela criança, esta aberta ao desenvolvimento e, portanto, viva.”(1)       

Para muitas pessoas, o uso de drogas esta associado a uma busca pela experiência da transcendência, pelo estado de prazer semelhante ao da fusão com o útero materno. O acolhimento de palhaço no PROAD busca atender a essa necessidade criativamente, oferecendo a experiência do retorno à infância através de exercícios cômicos. A arte do palhaço favorece a expressão de conteúdos inconscientes e faz com que o riso vença o medo de lidar com os aspectos sombrios da personalidade. Segundo Frederico Fellini, “no circo, através do palhaço, a criança pode imaginar que faz tudo o que está proibido, se vestir de mulher, armar surpresas, gritar, dizer em voz alta tudo o que pensa. No circo ninguém te repreende.  Pelo contrário, te aplaudem.”(2)
A psiquiatra Carmen Santana dá seu depoimento sobre o palhaço no seguinte texto: “no palhaço encontro, encarnada e restaurada, uma dimensão positiva e criadora do riso, que faz renascer um mundo múltiplo e fervilhante. É ele o risonho porteiro do circo que, com seu humor, nos convida para o espetáculo da vida, espetáculo de um mundo convertido em picadeiro. (...) Á medida que o palhaço incorpora, pela ação, pantomima e palavra, a coexistência de realidades opostas da vida, jogando, tateando, brincando, com estas oposições sem tentar reconcilia-las, ele nos conecta com a mobilidade do mundo mais que com sua estrutura, com o acontecer ininterrupto, mais que com a sucessão de instantes fotografados e encerrados nos limites de uma moldura. Deslizando com o palhaço em seu viver, temos estado a descobrir no mundo a sua vibração, sua graça, sua palhacice. (...) A presença do palhaço é transformadora, pois reinventa, a todo instante, nosso olhar para a vida. Por ver o mundo pelo grotesco é inofensivo e alegre, nele o medo é vencido pelo riso.”(3)



Referências:

(1)                                 Edinger, Edward F. (2006). Anatomia da Psique: o simbolismo alquímico na psicoterapia”. São Paulo, Ed. Cultrix, pág. 31
(2)                                 Fellini, F. (2004). Fazer um Filme. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, pág.185.
(3)                                 Sampaio, C.P. (1993). Entre Palhaços e Capitães. Junguiana Rev. Brasileira de Psicologia Analítica, no. 10, pág. 38 – 45.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...