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10/09/2013

TEM PALHAÇO NO PROAD

TEM PALHAÇO NO PROAD
Flávio Falcone


Há 7 meses, colaboro com o acolhimento do PROAD atendendo adultos que enfrentam a problemática da dependência química. Minha ferramenta de trabalho é a arte do riso. Utilizo técnicas de treinamento de palhaço para oferecer aos pacientes uma possibilidade de se renovar o olhar para suas vidas.

O treinamento do palhaço passa pelo entendimento de que tudo é risível e  revela o estado de graça de todas as coisas. O palhaço expressa a perplexidade da criança diante do mundo. Um estado em que não há julgamento moral. Onde todos os tabus deixam de ser uma ameaça e se tornam inofensivos. A sensação provocada por uma gargalhada é a de plenitude, de gozo, de satisfação. É a conciliação entre os opostos da consciência (bem/mal, certo/errado, masculino/feminino).
Para a psicologia analítica, o riso mobiliza o contato da consciência com a função transcendente, pois no riso o homem se funde ao seu estado de origem “divina” e primitiva. Muitos comparam esse estado com a sensação do útero materno. É o retorno ao mundo do sagrado, do numinoso, cuja plenitude se confunde com a do estado primordial. É o avesso do cotidiano, a ruptura com as atividades sociais, o esquecimento do profano, um contato revigorante com o mundo dos deuses e dos demônios que controlam a vida.
Para o autor Edward Edinger, a experiência do numinoso é de extrema importância em processos de transformação psíquica. O contato com o estado primitivo é o contato com o estado de pura potencialidade, de onde pode uma nova forma ou atualidade surgir. Segundo Edinger, “os aspectos fixos e desenvolvidos da personalidade não permitem mudanças. São sólidos, estabelecidos e certos de sua correção. Somente a condição original – indefinida, fresca e vital, mas vulnerável e insegura -, simbolizada pela criança, esta aberta ao desenvolvimento e, portanto, viva.”(1)       

Para muitas pessoas, o uso de drogas esta associado a uma busca pela experiência da transcendência, pelo estado de prazer semelhante ao da fusão com o útero materno. O acolhimento de palhaço no PROAD busca atender a essa necessidade criativamente, oferecendo a experiência do retorno à infância através de exercícios cômicos. A arte do palhaço favorece a expressão de conteúdos inconscientes e faz com que o riso vença o medo de lidar com os aspectos sombrios da personalidade. Segundo Frederico Fellini, “no circo, através do palhaço, a criança pode imaginar que faz tudo o que está proibido, se vestir de mulher, armar surpresas, gritar, dizer em voz alta tudo o que pensa. No circo ninguém te repreende.  Pelo contrário, te aplaudem.”(2)
A psiquiatra Carmen Santana dá seu depoimento sobre o palhaço no seguinte texto: “no palhaço encontro, encarnada e restaurada, uma dimensão positiva e criadora do riso, que faz renascer um mundo múltiplo e fervilhante. É ele o risonho porteiro do circo que, com seu humor, nos convida para o espetáculo da vida, espetáculo de um mundo convertido em picadeiro. (...) Á medida que o palhaço incorpora, pela ação, pantomima e palavra, a coexistência de realidades opostas da vida, jogando, tateando, brincando, com estas oposições sem tentar reconcilia-las, ele nos conecta com a mobilidade do mundo mais que com sua estrutura, com o acontecer ininterrupto, mais que com a sucessão de instantes fotografados e encerrados nos limites de uma moldura. Deslizando com o palhaço em seu viver, temos estado a descobrir no mundo a sua vibração, sua graça, sua palhacice. (...) A presença do palhaço é transformadora, pois reinventa, a todo instante, nosso olhar para a vida. Por ver o mundo pelo grotesco é inofensivo e alegre, nele o medo é vencido pelo riso.”(3)



Referências:

(1)                                 Edinger, Edward F. (2006). Anatomia da Psique: o simbolismo alquímico na psicoterapia”. São Paulo, Ed. Cultrix, pág. 31
(2)                                 Fellini, F. (2004). Fazer um Filme. Rio de Janeiro, Ed. Civilização Brasileira, pág.185.
(3)                                 Sampaio, C.P. (1993). Entre Palhaços e Capitães. Junguiana Rev. Brasileira de Psicologia Analítica, no. 10, pág. 38 – 45.


05/06/2013

"Maconha pode ser a porta de saída para o crack", diz psiquiatra

"Maconha pode ser a porta de saída para o crack", diz psiquiatra


O psiquiatra, especialista em drogas, Dartiu Xavier da Silveira defende redução de danos no tratamento de dependência de crack

02/06/2013

Dependente do atraso

Dependente do atraso

Cedo espaço à análise pertinente de Dartiu Xavier e Ilana Szabó a respeito da postura conservadora do Brasil no debate mundial sobre as drogas
por Wálter Maierovitch ( CARTA CAPITAL ) 
Usar o código penal e leis ordinárias complementares com base na falsa crença de servirem para reduzir a demanda às drogas ilícitas representa uma linha política fracassada no planeta. Os governos norte-americanos, republicanos ou democratas, acreditaram nesse simplismo e, perante as Nações Unidas, obtiveram sucesso e aprovaram em 1961 uma Convenção Única de cunho proibicionista e ainda em vigor. Os Estados Unidos tornaram-se os campeões de consumo e, na referida convenção, restou escrito que as drogas proibidas seriam “erradicadas” em 25 anos. A convenção entrou em vigor em 1964 e o tal prazo findou em 1989. Para Alain Labrusse, do Observatório Francês, “uma questão sanitária, de saúde pública, transformou-se em instrumento regulador do equilíbrio mundial”. Para se ter ideia, segundo o Fundo Monetário, o dinheiro derivado do narcotráfico, depois reciclado (lavado) principalmente no sistema financeiro, representa de 3% a 5% do PIB mundial.
O mesmo caminho de ignorar o fenômeno e mesmo assim legislar a respeito adotou o Brasil no projeto, já aprovado na Câmara, do deputado Osmar Terra (PMDB-RS). Sobre o fenômeno das drogas proibidas, transcrevo as sempre pertinentes e irrespondíveis colocações de Dartiú Xavier da Silveira, médico-psiquiatra e professor da Unifesp. O artigo foi escrito em parceria com Ilona Szabó de Carvalho, da rede Pense Livre:

“Enquanto o Ocidente vive um momento crucial no que diz respeito a políticas de drogas, nas Américas um grupo crescente de líderes, tanto da direita quanto da esquerda, clama por mudanças. Um novo relatório divulgado pela Organização dos Estados Americanos em 17 de maio é enfático: devemos nos mover em direção à descriminalização das drogas. O status quo vigente mostra-se insustentável.

Descriminalizar não é legalizar. É tratar o uso das drogas atualmente ilícitas como problema de saúde pública e não como crime.
O custo decorrente das políticas criminalizadoras e repressivas para famílias e comunidades, e sobretudo para os jovens, é a razão primordial para uma mudança de rumo. A América Latina responde por apenas 9% da população mundial, mas sofre com mais de 30% dos homicídios globais, e suas prisões estão superlotadas. Só no Brasil, cerca de 50 mil indivíduos são mortos violentamente a cada ano, e já temos a quarta maior população carcerária do mundo.

As políticas repressivas consomem verdadeiras fortunas. Surpreendentemente, os verdadeiros investimentos sociais em prevenção e tratamento, mais eficazes para reduzir o consumo e os danos causados pelas drogas, são comparativamente insignificantes. Os profissionais de saúde concordam que as políticas públicas devam se basear em evidências. Países como Portugal, Suíça, Espanha e República Tcheca têm liderado mudanças a partir de abordagens mais bem-sucedidas e menos danosas do que a simples repressão. E os resultados são claros: menos mortes e doenças, menos corrupção, redução da criminalidade e do poder do crime organizado.
No Brasil, infelizmente, velhas ideias sobrevivem, sustentadas por desinformação e preconceito. Exemplo do nosso atraso foi a aprovação, na Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei 7.663, de autoria de Osmar Terra. O texto aprovado reforça o papel da política de internação involuntária em entidades privadas, medida de exceção cara e pouco eficaz já prevista em lei, em detrimento de investimentos no fortalecimento de uma rede pública de tratamento da dependência.
Desde os anos 1970, os Estados Unidos já gastaram mais de 1 trilhão de dólares na “guerra às drogas”. E o que aconteceu dentro de suas fronteiras? Atualmente, as drogas ilícitas são baratas e mais acessíveis do que nunca. A taxa de dependência permanece no mesmo patamar de quando a guerra foi declarada, atingindo perto de 1,3% da população. Hoje, os EUA possuem, de longe, a maior população prisional do planeta, o que implica custos econômicos, humanos e sociais gigantescos.
O proibicionismo fundamenta-se no medo e na crença de que punir é mais eficiente do que informar, regular e tratar. Defendida por um número cada vez menor de pesquisadores, essa abordagem é incompatível com as boas práticas da saúde pública, que devem se pautar no pragmatismo, com base em evidências, visando à redução de danos individuais e coletivos.
A OEA tem convocado todos os países das Américas para esse debate. Não podemos ficar para trás."

Para ver artigo completo, clique aqui.

31/05/2013

CBN: Mudança do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas não deve ter tanta resposta

CBN SP - Mudança do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas não deve ter tanta resposta - CBN


Entrevista com Elton Kanomata, psiquiatra do programa de orientação e atendimento a dependentes da Universidade Federal de São Paulo.


Para ver a reportagem no site da CBN, clique aqui.

08/05/2013

Estadão: A internação compulsória e a visão do Proad.

Estadão: A internação compulsória e a visão do Proad.

Hoje, quarta feira, dia 08/05/2013, saiu uma nota sobre as visões a favor ou não da Internação compulsória. A visão do Proad foi representada pelo Jornal pela fala do Dr. Thiago Fidalgo. Confira!

17/04/2013

Drogas: dos riscos da proibição à necessidade da legalização.

Vídeo onde o Professor Dartiu Xavier da Silveira fala sobre:
 Drogas: dos riscos da proibição à necessidade da legalização.

Evento realizado no dia 04 de abril de 2013 na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro - Parte 6




Confira!

09/04/2013

Knowledge and attitudes related to drug abuse and prevention displayed by public school educators


Knowledge and attitudes related to drug abuse and prevention displayed by public school educators.


 2009 Jun;31(2):95-100.


Source

Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, Department of Psychiatry, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil. femor@terra.com.br
Abstract

OBJECTIVE:

To investigate the connection between knowledge about and the attitudes towards drug abuse by students displayed by public school educators in Brazil.

METHOD:

Cross-sectional study, with probabilistic sampling encompassing 20% of the municipal elementary schools located in the city of São Paulo from which educators were enrolled to answer three questionnaires: 1) professional and personal data; 2) assessment of their attitudes in drug abuse situations; 3) assessment of their knowledge on drug abuse.

RESULTS:

Considering possible values between -17 and +21, professionals scored 11.5 +/- 3.8 in the Attitudes scale. These values correspond to more empathic attitudes. Scores in the Knowledge on Drugs Scale were 55.2 +/- 12.5 (possible values: 0 to 100). Correlation between the Attitudes Scale and the time spent working as education professionals was -0.288 (p < 0.01). The difference in the means in the Attitude Scale according to professional academic qualifications was statistically significant (-1.93, t = 2.26; gl = 80; p < 0.05).

CONCLUSION:

The level of knowledge about drugs displayed by educators was average and not influenced by the professional's academic qualifications. In contrast, their attitudes were predominantly empathic and directly associated to their academic qualifications and inversely associated to the amount of time they had spent in that position.

Free Text

19/03/2013

Redução de danos e o Proad: é hora de entender.


A Redução de Danos: o ponto de vista do PROAD.

Autores: Moreira, FG; Haiek, R; Silveira, DX.

No século passado, três ocorrências favoreceram uma nova forma de abordar o problema do uso indevido de substâncias psicoativas no mundo:

·   1926 - Colégio de Médicos Britânicos / Comitê Rolleston: começa-se a prescrever heroína e seringas para os dependentes de heroína;

·   1984 - Epidemia de HIV e Hepatite B entre usuários de drogas injetáveis na Holanda: medidas sanitárias derrubam o preconceito de que os dependentes químicos não responderiam a intervenções de prevenção;

·      1985 - Expansão da estratégia de troca de seringas em vários países do mundo.

A esta nova abordagem deu-se o nome de “Redução de Danos”. Atualmente, o movimento de Redução de Danos (RD) vai muito além dos programas de disponibilização de seringas para usuários de drogas injetáveis. Podemos pensá-lo como um paradigma que permeia diversos aspectos do trabalho na área de uso e abuso de substâncias psicoativas.

Segundo Andrade, 2001, “Redução de Danos é uma política de saúde que se propõe a reduzir os prejuízos de natureza biológica, social e econômica do uso de drogas, pautada no respeito ao indivíduo e no seu direito de consumir drogas”.

A posição do PROAD foi a de considerar a Redução de Danos como um paradigma que permeia todo o seu trabalho.

Em sua tese, Bravo, 2000, afirma existirem atualmente dois discursos contrapostos a respeito do consumo de drogas: o discurso tradicional, ligado a posturas repressivas, focalizando predominantemente as drogas ilegais e criminalizando o usuário – a assim chamada “Guerra às Drogas”; e um novo discurso, denominado “Redução de Danos”, que não tem como objetivo a eliminação total do consumo, mas a diminuição dos efeitos prejudiciais do mesmo, priorizando assim a saúde dos sujeitos e da comunidade em geral.

Este movimento aceita que “bem ou mal, as drogas lícitas e ilícitas fazem parte deste mundo, e escolhe trabalhar para minimizar seus efeitos danosos ao invés de simplesmente ignorá-los ou condená-los”, Harm Reduction Coalition, 2001.

Na RD, o critério de sucesso de uma intervenção não segue a lei do “tudo ou nada”, sendo aceitos objetivos parciais. As alternativas não são impostas de “cima para baixo”, por leis ou decretos, mas são desenvolvidas com participação ativa da população beneficiária da intervenção. O denominador comum das ações dentro da RD é a postura compreensiva e inclusiva, as abordagens “amigáveis” ao usuário (Marllat, 1999).

Cabe ressaltar que, na visão partilhada pelo PROAD, a RD não se contrapõe ao modelo que visa a abstinência de drogas, mas o considera como uma das estratégias possíveis entre várias outras.

Segue abaixo um quadro comparando a política de “Guerra às Drogas” com o movimento de Redução de Danos:


Segundo Silveira e Silveira, 2001, o movimento da Redução de Danos apresenta como objetivos gerais evitar, se possível, que as pessoas se envolvam com o uso de substâncias psicoativas; se isto não for possível, evitar o envolvimento precoce com o uso de drogas, retardando-o ao máximo; para aqueles que já se envolveram, ajudá-los a evitar que se tornem dependentes; e, para aqueles que já se tornaram dependentes, oferecer os melhores meios para que possam abandonar a dependência; e se, apesar de todos os esforços, eles continuarem a consumir drogas, orientá-los para que o façam da maneira menos prejudicial possível.

Desta forma, se considerarmos a Redução de Riscos e a Redução e Danos como partes de um mesmo continuum, onde estão englobadas as estratégias de prevenção nos vários níveis: primário, secundário e terciário, bem como todas as intervenções de atendimento ao usuário, incluindo tratamento e reinserção social.

Na visão do PROAD, em um tratamento da dependência química pautado nos princípios da Redução de Danos, os usuários são acolhidos dentro das suas demandas e possibilidades. Isto inclui a possibilidade de modificação do padrão de uso e da substituição da droga de abuso por outra com a qual o usuário consiga estabelecer um padrão de uso menos danoso, sem excluir a possibilidade da abstinência.

A substituição de drogas pode incluir tanto drogas lícitas (prescrição de metadona para usuários de opióides e de benzodiazepínicos para dependentes de álcool) ou ilícitas (acompanhar o uso de maconha que usuários de crack e cocaína fazem no sentido de tentar controlar sua ‘fissura’). As metas intermediárias são destinadas aos pacientes que não desejam ou não conseguem, temporariamente ou não, abandonar o uso de drogas. A busca pelo uso moderado ou controlado da substância em questão é, em princípio, uma estratégia possível no atendimento ao dependente de qualquer substância.

No enfoque da RD a individualidade do usuário é considerada e este participa na construção do seu modelo de recuperação. Pode ainda vir a atuar como Redutor de Danos na recuperação de seus pares (outros usuários). O PROAD considera essencial a continuidade das pesquisas sobre estas novas formas de intervenção.

Ao colocarmos o status legal das drogas em uma posição secundária nesta discussão, estamos assumindo uma posição bastante clara: no tocante à legislação, o PROAD defende a descriminalização do usuário de qualquer droga, assumindo que o ato de consumir drogas, per si, não pode ser considerado um delito. Somente poderia ser penalizado o usuário que eventualmente vier a cometer um crime (Maierovitch, 2002).

Cabe esclarecer que descriminalizar diz respeito a despenalizar (não mais tornar alvo de sansão penal) o indivíduo que usa ou porta a droga para uso próprio, não importando se este é um usuário ocasional ou um dependente. Diferentemente, legalizar refere-se a medidas mais amplas que despenalizam igualmente a produção e a comercialização dos tóxicos (Costa, 1988). O PROAD considera a descriminalização das drogas uma importante medida de Redução de Danos: “a descriminalização do uso de drogas, em nosso entender, poderia ser, por um lado, fator de integração do usuário na sociedade; e, por outro, acabaria com o estigma marginalizante da droga” (Costa, 1988).

Dentro da mesma linha de coerência, o PROAD coloca-se frontalmente contra intervenções coercitivas junto a usuários, tais como a Justiça Terapêutica. Esta proposta “baseia-se numa relação crime e castigo, obrigatoriedade e punição, numa filosofia que ingenuamente acredita que uma lei criminal é capaz de ‘per se’ inibir o uso”, não diferenciando o dependente químico do usuário ocasional, além de propor uma forma de tratamento que não admite a possibilidade da recaída como fenômeno inerente ao processo de recuperação (Maierovitch, 2003).

Quanto às práticas de Redução de Danos na comunidade, os benefícios da prática de disponibilização de seringas e demais insumos aos usuários de drogas injetáveis, de eficácia amplamente comprovada, levam o PROAD a considerar imprescindível sua adoção dentro de um modelo de intervenção abrangente. Com relação à distribuição de cachimbos para usuários de crack, faltam ainda pesquisas que justifiquem ou condenem a prática.

Na opinião do PROAD, a redução de danos não deve se restringir às drogas ilícitas, defendendo, no entanto, que as muitas iniciativas já existentes devam ser reforçadas, tais como as campanhas de evitar a direção de veículos sob efeito do álcool e a restrição de venda de bebidas alcoólicas a menores e em estradas.

Indiscutivelmente, a Redução de Danos é um tópico importante dentro no campo das dependências químicas, seja como paradigma de referência, seja como conjunto de estratégias de intervenção. O PROAD propõe ainda que a RD seja incluída no currículo de todos os cursos na área de dependências químicas. Defende ainda o estímulo à produção de conhecimento no campo da Redução de Danos.

Segundo Carlini-Cotrim, 1992, “Houve um aumento de quase 12 vezes, entre as décadas de 60 e 80, na quantidade de artigos publicados (no jornal O Estado de São Paulo) sobre drogas, álcool e tabaco”. Tal interesse da mídia, por outro lado, não se traduziu em melhoria da qualidade das reportagens, que muitas vezes veiculam informações distorcidas e tendenciosas. O PROAD reconhece assim a necessidade de um trabalho contínuo junto à mídia, visando reduzir os danos relacionados à veiculação de informações equivocadas.

Bibliografia:

Bravo, O. A. (2000). Discurso sobre drogas nas instituições do Distrito Federal. [tese] Universidade de Brasília, Brasília.

Carlini-Cotrim, B. (1992). A escola e as drogas: O Brasil no contexto internacional. [Tese], Psicologia Social, Pontifícia Universidade Católica de Sao Paulo, São Paulo. Pontifícia Universidade Católica de Sao Paulo.

Costa, P. F. (1988). Aspectos legais do consumo. Em: Bucher, Richard, As drogas e a vida. São Paulo: EPU; pp. 39-45.

Harm Reduction Coalition. (2002-2003) Harm Reduction Coalition [Web Page]. URL http://www.harmreduction.org/ Webpage acessada em: 7/11/2002.

Maierovitch, W. (2003). Justiça Terapêutica - Entrevista Dr. Walter Maierovitch. Webpage acessada em: 10/08/2003. http://www.psicologia-online.org.br/atualidades/materias.cfm?id_area=460

Maierovitch, W. (2002) Drogas sem lei no Brasil. Correio Brasiliense. Brasília,    quintafeira, 17 de janeiro de 2002. Webpage acessada em: 10/08/2003 http://www2.correioweb.com.br/cw/2002-01-17/mat_28927.htm

Marlatt, G. A. (1999). Redução de Danos: estratégias práticas para lidar com comportamentos de alto risco. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.

Silveira, E. D. X., & Silveira, D. X. (2001). Um Guia para a Família. Brasília: Presidência da República - Secretaria Nacional Antidrogas.


15/03/2013

Alcoólicos Anônimos: É preciso dar mais do que doze passos


É preciso dar mais do que doze passos

Um estudo conclui que, sozinho, o método preconizado pelos Alcoólicos Anônimos para livrar dependentes da bebida tem pouca eficácia.


Kalleo Coura
Foto Marcos Hermes
"SÓBRIOS SÓ POR HOJE"
O tratamento do AA baseia-se no apoio de outros dependentes e na força de vontade, exercício que tem de ser diário
Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo traz uma boa e uma má notícia para dependentes de álcool que decidiram apostar em grupos de autoajuda para livrar-se do vício. A boa notícia é que entre os dependentes que frequentam ao menos duas vezes por mês as reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA), o mais conhecido desses grupos e objeto da pesquisa da Unifesp, 45% conseguem ficar abstêmios por seis meses, período mínimo necessário para considerar o resultado do tratamento satisfatório. O problema é que menos de 19% dos que lá ingressam mantêm a assiduidade exigida - o que conduz à segunda notícia: as chances de uma pessoa conseguir parar de beber por meio do ingresso no AA são as mesmas de quem tenta fazer isso sem ajuda nenhuma. Em outras palavras: o AA, segundo o estudo da Unifesp, não funciona - ao menos não sozinho.
Para conduzirem o estudo, pesquisadores do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Unifesp acompanharam durante meio ano 257 dependentes de álcool que foram encaminhados ao AA. No fim desse período, apenas 49 haviam comparecido aos encontros pelo menos uma vez por mês. A "falta de identificação" com o método foi a resposta mais citada pelos desistentes, mas o "ambiente pesado" das reuniões, justificado pela recorrência de relatos considerados "depressivos", também foi mencionado com frequên-cia. A barwoman Renata (nome fictício), de 41 anos, dependente de álcool desde os 26, conta que não conseguiu ir a mais do que quatro encontros do AA. "Minha vontade de beber, em vez de diminuir, aumentava com as sessões", diz ela. "As pessoas só falavam em álcool durante uma hora e as histórias eram sempre tristes. Um dia, saí de lá e fui direto para o bar", conta. A incapacidade de reter os frequentadores é o principal problema do AA, segundo o estudo do Proad, mas não é o único.
Foto: Lailson Santos
EFEITO INVERSOA barwoman Renata foi a quatro encontros do AA e desistiu: "Minha vontade de beber aumentava em vez de diminuir"

De acordo com o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad, o método dos Alcoólicos Anônimos é particularmente ineficaz para duas categorias de alcoólatras: os que têm dificuldade de falar em público, uma vez que a verbalização da doença está na base do tratamento da associação, e os que sofrem de algum tipo de problema psiquiátrico - caso de três em cada quatro dependentes de álcool, afirma ele. Na origem da segunda incompatibilidade está o fato de que, não tratado, o distúrbio psiquiátrico torna a abstinência um objetivo bem mais difícil de atingir. 
Tome-se o exemplo de alguém que sofre de depressão ou fobia social. Se ele estiver habituado a recorrer a um copo bem cheio para amenizar a intensidade da tristeza ou a dificuldade de se relacionar com as pessoas, terá mais problemas para livrar-se da bebida. O representante comercial Eduardo (nome fictício), de 40 anos, além do alcoolismo, sofria de depressão e transtorno obsessivo-compulsivo. Participou de cinco grupos de autoajuda e não conseguiu ficar mais do que alguns dias longe de um copo. Hoje em tratamento psiquiátrico, está há oito meses sem beber. "Identificar se algum transtorno levou o indivíduo à dependência é fundamental no tratamento do alcoolismo", diz um dos autores do estudo do Proad, o psiquiatra Mauro Terra, do Centro de Estudos José de Barros Falcão.
O psicólogo americano William Richard Miller, professor aposentado de psicologia e psiquiatria da Universidade do Novo México, analisou uma série de pesquisas sobre a eficácia do AA, algumas apontando taxas de recuperação de até 81%. Chegou à conclusão de que muitas delas apresentavam resultados inflados, por causa de erros metodológicos. Em compensação, obteve um dado animador. Descobriu que a participação assídua em grupos de autoajuda faz crescer em até 10% a chance de abstinência no caso de um dependente de álcool que já esteja em tratamento psiquiátrico.
Criado em 1935 nos Estados Unidos, o modelo dos Alcoólicos Anônimos parte do princípio de que só um alcoólatra pode ajudar outro - o que ocorreria por meio do apoio mútuo, do compartilhamento de experiências e do compromisso de seguir os doze passos, conjunto de princípios que forma a base metodológica do AA (o primeiro passo prega a admissão da impotência do doente diante do álcool e o segundo invoca a crença de que a sua recuperação depende de um poder superior). O método é hoje seguido por 2 milhões de pessoas em mais de 160 países. No Brasil, existem em torno de 6.000 grupos de Alcoólicos Anônimos, que, segundo a entidade, reúnem 110 000 membros - aqueles que comparecem ao menos uma vez por semana às sessões ou participam dos encontros on-line.
Foto: Pedro Rubens
ALÉM DO ALCOOLISMO
Com depressão e TOC, Eduardo, dependente de álcool, tentou cinco grupos de autoajuda antes de recorrer ao psiquiatra
Embora admita que o AA tem limitações, o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grupo de Estudos de Álcool e Drogas da Universidade de São Paulo, afirma que não se pode desprezar a sua relevância, sobretudo para "os que não podem arcar com os custos de um tratamento médico e aqueles que possuem algum tipo de crença espiritual". Tanto isso é verdade que os doze passos hoje já não são usados exclusivamente pelos grupos de autoajuda. "Muitas clínicas de recuperação de dependentes de álcool adotam a cartilha", diz o psiquiatra Marcelo Niel, do Proad. O coordenador do grupo, Dartiu Xavier da Silveira, chama atenção, no entanto, para o fato de que a combinação de dois fatores - remédios e psicoterapia - é um dos caminhos comprovadamente mais bem-sucedidos até hoje na reabilitação de alcoólatras. A taxa de abstinência, nesse caso, chega a 36%, contra a de 9% obtida por indivíduos que apenas recorrem aos grupos de autoajuda. Força de vontade e palavras de apoio são essenciais, mas a estrada rumo à sobriedade requer mais do que doze passos.

Artigo retirado da Revista Veja, para ver o artigo completo, clique aqui.



04/03/2013

Dependência sexual: Mais um post para tirar dúvidas!

A dependência sexual é um problema que merece ser diagnosticado e tratado. Tire agora suas principais dúvidas sobre o assunto

Por Diogo Sponchiato


Viciados em sexo
O jogador de golfe americano Tiger Woods, alvo de um escândalo recentemente, declarou sofrer de dependência sexual. De fato, o ser humano pode ficar obcecado pelo bem-bom. Só que, longe de ser uma fonte inesgotável de prazer, esse comportamento transforma o sexo em um grande problema. Tire suas dúvidas sobre o problema.

Existe vício em sexo?
Sim. Trata-se de um transtorno mental marcado por uma profunda dependência de sexo. O indivíduo não para de pensar no assunto e está sempre sedento por satisfazer seu prazer. A questão é que, nesses casos, o homem ou a mulher perde o controle da situação e, aí, essa compulsão passa a atrapalhar a vida social.

Quais as características de um dependente sexual?
A primeira — e mais evidente — é a de uma pessoa que não consegue se controlar frente aos impulsos sexuais ou pensamentos que remetem à atividade entre os lençóis. Muitos dos dependentes se tornam, por exemplo, visitantes assíduos de sites pornográficos. O indivíduo perde a noção de que existem momentos e locais certos para transar ou se masturbar. “Esse comportamento passa a comprometer o convívio com os outros”, afirma o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Proad-Unifesp).

Quem está mais sujeito a essa compulsão?
São os adultos, entre 30 e 60 anos. Na adolescência, a explosão dos hormônios faz com que, naturalmente, o indivíduo se descubra sexualmente e pense mais no assunto — inclusive devido às suas inseguranças. Já depois dos 70 anos, problemas neurológicos podem afetar o discernimento sobre a vida sexual. Por isso, pessoas mais velhas podem apresentar comportamentos sexuais esquisitos.

Homens ou mulheres: quem sofre mais de compulsão sexual?
“A procura dos homens por ajuda é brutalmente maior do que a das mulheres”, diz o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior. Isso não significa, porém, que só marmanjos enfrentem o problema. Embora se avalie que a compulsão seja mais típica no sexo masculino, muitas mulheres deixam de buscar auxílio médico por puro preconceito.

Dependência de sexo só envolve relação a dois?
Não. Há muita gente que, louca por sexo, transforma a masturbação ou o voyeurismo em suas fontes de deleite. Outra parcela dos dependentes sexuais só consegue se contentar (por alguns minutos ou horas) depois de transar com alguém.

Há tratamento para esse vício?
Felizmente, sim. O médico Aderbal Vieira Júnior lista e explica as principais abordagens terapêuticas:

1. Psicoterapia psicodinâmica: o terapeuta ajuda o paciente a compreender melhor sua sexualidade e a decifrar por que o sexo tem um papel tão excessivo em sua vida. Assim, pode orientá-lo a traçar estratégias para derrubar a compulsão.
2. Terapia cognitivo-comportamental: nesse caso, o foco é identificar hábitos e promover mudanças de comportamento capazes de repelir a dependência sexual.
3. Medicamentos: em algumas situações mais graves, os especialistas receitam antidepressivos, medicamentos que atuam no sistema nervoso e rebaixam a libido. Os remédios podem também ser coadjuvantes da psicoterapia.

Serviço
Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo
Site: http://www.proad.unifesp.br/
Telefone: (11) 5579 1543


Para ver artigo completo da revista Abril, clique aqui.
Créditos ao autor: Diogo Sponchiato

28/02/2013

Hospital São Paulo recebe recursos do governo de São Paulo

Hospital São Paulo recebe recursos do governo de São Paulo


São Paulo, 27 de fevereiro de 2013 - Na manhã desta quarta-feira, 27/02, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, esteve presente no Hospital São Paulo, hospital universitário da Unifesp, para anunciar um repasse no valor de R$ 77,3 milhões à instituição.
Os recursos, que integram o Projeto de Modernização dos Hospitais Universitários do Estado, serão revertidos em obras para melhoria das unidades. Realizado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, o investimento deverá ser efetuado em sua totalidade até 2015. Somente neste ano, serão repassados pela pasta cerca de R$ 6 milhões ao hospital.
Geraldo Alckmin reconheceu o hospital como um dos principais centros médicos de São Paulo no que diz respeito às áreas de assistência, ensino e pesquisa. “O hospital é um grande parceiro do governo, e assim como os outros hospitais administrados pela SPDM, oferece atendimento com qualidade e eficiência à população”, ressaltou o governador.
De acordo com o superintendente do HSP, José Roberto Ferraro, o Projeto de Modernização dos Hospitais Universitários do Estado será muito importante para o hospital, e os recursos serão devolvidos em forma de atendimento de qualidade para toda a população.
A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, destacou as atividades desenvolvidas pelo HSP, como a assistência e a pesquisa, com ênfase ao ensino e seus programas de pós-graduação e residências médica e multiprofissional. A reitora aproveitou a ocasião para reforçar o compromisso da Unifesp para o fortalecimento do HSP.
Estiveram também presentes o Secretário de Estado da Saúde de São Paulo, Giovanni Guido Cerri, o Presidente do Conselho Gestor do Hospital São Paulo, Flávio Faloppa, o vice-presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), Ronaldo Laranjeira, o vereador Gilberto Natalini, entre outras autoridades.

Investimentos

Do total de investimentos realizados, cerca de R$ 20 milhões serão destinados à reforma e ampliação do pronto-socorro e R$ 12,8 milhões serão investidos em readequações no setor de UTI do hospital. Além disso, serão investidos mais R$ 13 milhões na readequação do setor de radioterapia e do acesso principal e outros R$ 13 milhões para a modernização dos serviços de diagnósticos do hospital. Os elevadores da unidade também serão modernizados, de acordo com as normas legais de acessibilidade, a um custo estimado em R$ 5 milhões.
Fonte: Assessoria de Imprensa da Unifesp

Foto: José Luiz Guerra - Comunicação/ Unifesp

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O Hospital São Paulo

O Hospital São Paulo surgiu em 1936 em decorrência de se obter um espaço em que os alunos pudessem ter um espaço para sua prática.

Em 1940 foram inaugurados os quatro primeiros andares do Hospital São Paulo, com 120 leitos e desdobrado o pavilhão Dona Maria Tereza. Tempos depois o pavilhão passaria a agasalhar em seu andar superior a sede do Centro Acadêmico Pereira Barreto, com a mudança deste para outra sede, a cadeira de Clínica Dermatológica e Sifilográfica. Posteriormente (1972), no lugar do pavilhão, foi construído um prolongamento do atual Edifício dos Ambulatórios, que leva o nome do Prof. Jairo Ramos.
O HSP possuía um equipamento ímpar para a época, como o raio X importado. O prédio possuía 2 andares, onde foram instalados os serviços da Clínica Médica e Clínica Cirúrgica.
Na planta original, o Hospital São Paulo possuiria 3 alas de 11 andares. Uma ala central, uma lateral esquerda e outra direita. O pavilhão continuou funcionando, foram instaladas 4 especialidades médicas - clínica médica, clínica cirúrgica, obstetrícia e pediatria. À medida que a medicina foi evoluindo, essas especialidades foram sendo subdivididas.
O Hospital foi sendo planejado para situá-las de andar por andar. Foram Instalados o anfiteatro para o ensino teórico e cozinha, administração, farmácia, almoxarifado. De 1940 a 1956 , período em que a EPM era uma instituição particular, o HSP pertencia a EPM - o primeiro Hospital de Ensino Próprio do Brasil. A EPM foi a primeira escola médica que teve seu hospital próprio, devido ao trabalho, esforço e dedicação de seus professores, sem subsídio do governo.
Para manter uma parte do custeio do Hospital foram colocados 60 leitos particulares. Essa receita cobre quase a metade do custeio do Hospital de Indigentes. Foram aumentando de 100, para 200 e 300 leitos. O Hospital para época oferecia um bom padrão de ensino médico.
No começo da década de 60, o Hospital precisou de receita, e a escola oferecia uma verba para ajudar e o Governo do estado pagava uma cota por indigente. Essas duas verbas eram insuficientes. A Escola conseguiu firmar um convênio com a Sociedade Civil e entrou no orçamento uma verba própria para o Hospital. Por questões jurídicas, a Sociedade Civil mudou de nome e passou a ser chamada Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina e assim se mantém até os dias atuais.
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O Proad
O Proad faz parte do complexo Unifesp - Hospital São Paulo, atuando ambulatorialmente no atendimento e orientação a dependentes (químicos e não-químicos), atuando em parceria com o Hospital São Paulo e o Hospital Estadual de Diadema, sendo que muitos pacientes são referenciados e contra-referenciados entre tais serviços serviços.

27/02/2013

Ibogaína: Revista Época - A droga da salvação


A droga da salvação - Revista Época / Nacional

Pesquisadores americanos apostam na ibogaína, uma raiz encontrada na África, para combater a dependência química

E um processo longo e doloroso. A dependência se instala no organismo, cresce e domina a pessoa. A internação é obrigatória. Depois do período de desintoxicação, crises de abstinência ainda provocam febre, náusea, dores. Durante meses, necessidades vitais, como alimentação e sono, ficam comprometidas. Vive-se um período tenso, em que as relações familiares e sociais se deterioram, a carreira entra em colapso, a recaída é iminente. Para enfrentar esse panorama sombrio, cientistas americanos apostam na ibogaína, um alucinógeno usado em rituais africanos. A idéia é que ela funcione como um antídoto às drogas mais conhecidas.

Trata-se de um alcalóide extraído da casca da raiz do arbusto Tabernanthe iboga. É consumido há séculos por tribos do Gabão, em cerimônias religiosas. Ingerido em dose elevada, provoca alucinações. Na medida certa, pode contribuir para a cura de viciados. Pesquisas recentes relatam sua eficácia em dependentes de heroína, cocaina, crack e álcool.

O Food and Drug Administration (FDA), o órgão americano que autoriza o uso de novos medicamentos, ainda não elevou a ibogaína à categoria de remédio. A substância, no entanto, vem sendo testada em voluntários pelo departamento de neurologia da Universidade de Miami há uma década. A ibogaína já é empreqada no tratamento de viciados no Centro Médico Paitilla, no Panamá, desde 1994, e no Healing visions Institute for Addiction Recovery, clínica instalada na Ilha de St. Kitts, no Caribe, em 1996. Cerca de 250 casos de dependentes reabilitados - inclusive um brasileiro -, tanto nas clínicas panamenha e caribenha, quanto em experiências isoladas nos Estados Unidos e na Holanda, foram apresentados em um congresso na Universidade de Nova York em 1999.

O alcalóide atua em duas frentes. Restabelece a produção de dopamina no cérebro, afetada pelo consumo de outras drogas. Com isso, o paciente recupera a sensação de conforto e bem-estar normal. Essa é a resposta química. Altera também comportamentos. Segundo voluntários ele provoca certa confusão mental. E comum os pacientes verem imagens do passado. Essa é a resposta psicológica. Na regressão, muitos usuários reavaliam o caminho que os teria conduzido ao vício e à dependência.

As propriedades terapêuticas da ibogaína foram documentadas pela primeira vez pelo americano Howard Lotsof, em 1962. Dependente de heroína, Lotsof, então com 19 anos, comprou um punhado da raiz de um traficante. Experimentou-a e viajou, como se diz no jargão dos consumidores de alucinógenos. Passado o efeito, verificou que já não sentia vontade de injetar heroína na veia. Induziu três amigos, todos viciados, a repetir o procedimento. O resultado foi o mesmo. Na década de 80, estabeleceu-se na Holanda, onde o consumo de drogas é tolerado, abriu uma empresa e patenteou o uso da substância em tratamentos contra a dependência de opiáceos, álcool e estimulantes. "A ibogaína é uma estrada de libertação da escravidão das drogas", afirmou Lotsof a Época.

A pedido do americano

Deborah Mash, professora de neurologia da Universidade de Miami, acompanhou o tratamento de três viciados em heroína num quarto de hotel em Leiden, na Holanda, em 1992. Ficou impressionada. "A ibogaína faz uma limpeza no corpo, na mente e no espírito", disse. No dia seguinte, conseguiu autorização do FDA para estudar a substância. As pesquisas estão no estágio de avaliação dos efeitos tóxicos.

A terapia à base de ibogaína ainda é muito controvertida. A morte de três pessoas por intoxicação com a droga, duas na Holanda e uma na Suíça, deixou as autoridades americanas ressabiadas. Experiências com animais comprovaram que a substância pode provocar convulsões e parada cardíaca. Como seu uso ainda não está autorizado nos EUA, médicos americanos têm levado o tratamento para países vizinhos, onde é aprovado pelos governos locais. A clínica caribenha pertence à neurologista Deborah Mash. Howard Lotsof assessora a equipe do Centro Médico Paitilla, no Panamá.


Os pacientes são submetidos a uma bateria de exames antes de iniciar a terapia. Depois, assinam um termo de responsabilidade. Só então são internados para ingerir uma única cápsula de ibogaína. O transe varia de 24 a 36 horas. A compulsão por outras drogas, dizem os clientes das duas clínicas, cessa ao final da viagem. Não há crises de abstinência. O tratamento dura de cinco dias a duas semanas e pode custar entre US$ 12 mil e US$ 20 mil.

O psiquiatra Dartiu Xavier diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo, tem pronto um protocolo de pesquisa com voluntários. Dois de seus pacientes experimentaram a ibogaína no Exterior. "Eles largaram a cocaína", afirma. Nos EUA, a Universidade de Miami questiona a patente do medicamento, hoje nas mãos de Lotsof.

A briga nos tribunais dificulta a arrecadação de recursos da iniciativa privada para a finalização dos estudos - seriam necessários ainda US$ 30 milhões. No mundo inteiro, viciados anseiam pela liberalização da droga que pode salvá-los.

Artigo retirado do site da Unifesp, para ver o site, clique aqui.
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