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27/02/2013

Ibogaína: Revista Época - A droga da salvação


A droga da salvação - Revista Época / Nacional

Pesquisadores americanos apostam na ibogaína, uma raiz encontrada na África, para combater a dependência química

E um processo longo e doloroso. A dependência se instala no organismo, cresce e domina a pessoa. A internação é obrigatória. Depois do período de desintoxicação, crises de abstinência ainda provocam febre, náusea, dores. Durante meses, necessidades vitais, como alimentação e sono, ficam comprometidas. Vive-se um período tenso, em que as relações familiares e sociais se deterioram, a carreira entra em colapso, a recaída é iminente. Para enfrentar esse panorama sombrio, cientistas americanos apostam na ibogaína, um alucinógeno usado em rituais africanos. A idéia é que ela funcione como um antídoto às drogas mais conhecidas.

Trata-se de um alcalóide extraído da casca da raiz do arbusto Tabernanthe iboga. É consumido há séculos por tribos do Gabão, em cerimônias religiosas. Ingerido em dose elevada, provoca alucinações. Na medida certa, pode contribuir para a cura de viciados. Pesquisas recentes relatam sua eficácia em dependentes de heroína, cocaina, crack e álcool.

O Food and Drug Administration (FDA), o órgão americano que autoriza o uso de novos medicamentos, ainda não elevou a ibogaína à categoria de remédio. A substância, no entanto, vem sendo testada em voluntários pelo departamento de neurologia da Universidade de Miami há uma década. A ibogaína já é empreqada no tratamento de viciados no Centro Médico Paitilla, no Panamá, desde 1994, e no Healing visions Institute for Addiction Recovery, clínica instalada na Ilha de St. Kitts, no Caribe, em 1996. Cerca de 250 casos de dependentes reabilitados - inclusive um brasileiro -, tanto nas clínicas panamenha e caribenha, quanto em experiências isoladas nos Estados Unidos e na Holanda, foram apresentados em um congresso na Universidade de Nova York em 1999.

O alcalóide atua em duas frentes. Restabelece a produção de dopamina no cérebro, afetada pelo consumo de outras drogas. Com isso, o paciente recupera a sensação de conforto e bem-estar normal. Essa é a resposta química. Altera também comportamentos. Segundo voluntários ele provoca certa confusão mental. E comum os pacientes verem imagens do passado. Essa é a resposta psicológica. Na regressão, muitos usuários reavaliam o caminho que os teria conduzido ao vício e à dependência.

As propriedades terapêuticas da ibogaína foram documentadas pela primeira vez pelo americano Howard Lotsof, em 1962. Dependente de heroína, Lotsof, então com 19 anos, comprou um punhado da raiz de um traficante. Experimentou-a e viajou, como se diz no jargão dos consumidores de alucinógenos. Passado o efeito, verificou que já não sentia vontade de injetar heroína na veia. Induziu três amigos, todos viciados, a repetir o procedimento. O resultado foi o mesmo. Na década de 80, estabeleceu-se na Holanda, onde o consumo de drogas é tolerado, abriu uma empresa e patenteou o uso da substância em tratamentos contra a dependência de opiáceos, álcool e estimulantes. "A ibogaína é uma estrada de libertação da escravidão das drogas", afirmou Lotsof a Época.

A pedido do americano

Deborah Mash, professora de neurologia da Universidade de Miami, acompanhou o tratamento de três viciados em heroína num quarto de hotel em Leiden, na Holanda, em 1992. Ficou impressionada. "A ibogaína faz uma limpeza no corpo, na mente e no espírito", disse. No dia seguinte, conseguiu autorização do FDA para estudar a substância. As pesquisas estão no estágio de avaliação dos efeitos tóxicos.

A terapia à base de ibogaína ainda é muito controvertida. A morte de três pessoas por intoxicação com a droga, duas na Holanda e uma na Suíça, deixou as autoridades americanas ressabiadas. Experiências com animais comprovaram que a substância pode provocar convulsões e parada cardíaca. Como seu uso ainda não está autorizado nos EUA, médicos americanos têm levado o tratamento para países vizinhos, onde é aprovado pelos governos locais. A clínica caribenha pertence à neurologista Deborah Mash. Howard Lotsof assessora a equipe do Centro Médico Paitilla, no Panamá.


Os pacientes são submetidos a uma bateria de exames antes de iniciar a terapia. Depois, assinam um termo de responsabilidade. Só então são internados para ingerir uma única cápsula de ibogaína. O transe varia de 24 a 36 horas. A compulsão por outras drogas, dizem os clientes das duas clínicas, cessa ao final da viagem. Não há crises de abstinência. O tratamento dura de cinco dias a duas semanas e pode custar entre US$ 12 mil e US$ 20 mil.

O psiquiatra Dartiu Xavier diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo, tem pronto um protocolo de pesquisa com voluntários. Dois de seus pacientes experimentaram a ibogaína no Exterior. "Eles largaram a cocaína", afirma. Nos EUA, a Universidade de Miami questiona a patente do medicamento, hoje nas mãos de Lotsof.

A briga nos tribunais dificulta a arrecadação de recursos da iniciativa privada para a finalização dos estudos - seriam necessários ainda US$ 30 milhões. No mundo inteiro, viciados anseiam pela liberalização da droga que pode salvá-los.

Artigo retirado do site da Unifesp, para ver o site, clique aqui.

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