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23/02/2014

Seis meses depois da adesão, Cartão Recomeço não avança

Seis meses depois da adesão, Cartão Recomeço não avança

Natália Fernandjes 
Do Diário do Grande ABC




Seis meses após ter aderido ao Cartão Recomeço, programa do governo do Estado, nenhum dependente químico de Diadema foi internado para reabilitação.

Desde a assinatura do convênio, em julho, apenas uma clínica demonstrou interesse em ofertar 15 vagas para internação voluntária em comunidade terapêutica. Mas nenhum dos usuários de drogas atendidos pelos Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool de Drogas) da cidade manifestou interesse no projeto.

Diadema é o único município da região a participar do projeto, que disponibiliza R$ 1.350 mensais por até 180 dias de internação para comunidades ou abrigos conveniados que receberão os dependentes químicos. A cidade atende 1.376 pacientes no Caps, sendo que 20% deles são dependentes de crack, público preferencial do projeto.

Por meio de nota, a Prefeitura informou que a única clínica interessada fica em Santo André e que o município está em processo de encaminhar pacientes para essas vagas a partir do Caps. A administração informou ainda que verifica a possibilidade de inscrição de mais uma entidade em município vizinho, São Bernardo, para ampliar o número de vagas disponibilizadas.

A cidade destacou que oferece atendimento aos usuários de drogas em regime 24 horas, junto à atenção básica, por meio da discussão dos casos, atendimentos compartilhados, visitas domiciliares e cuidado aos casos mais graves. No Caps, o tratamento oferecido é individualizado, direcionado de acordo com a necessidade do paciente e pode contemplar desde acolhimento, atendimento médico psiquiátrico, terapêutico em grupos, individual com profissional de referência, além de visitas domiciliares, discussão e encaminhamento em rede, além de atendimento familiar.

A escolha das clínicas prestadoras de serviço é feita a partir de dois critérios básicos. Além de passar por vistoria física, a unidade deverá oferecer protocolo de atendimento e profissionais em áreas como assistência social, psicologia, terapia ocupacional e oficinas terapêuticas. Os valores referentes ao tratamento dos usuários serão repassados diretamente para as conveniadas.

O programa é destinado para maiores de 18 anos que queiram ser atendidos. Em todo o Estado, serão beneficiadas 3.000 pessoas, aproximadamente. O projeto piloto, cuja porta de entrada é o Caps AD, prevê investimento de R$ 4 milhões.

Os critérios para a escolha das cidades contempladas foram o tamanho da rede de referência em assistência social e saúde e a localização. 

Saiba mais, aqui.

14/05/2013

Ação foca modo mais radical de tratamento


Ação foca modo mais radical de tratamento
'Bolsa internação' financia entidades em detrimento do sistema público
MAURÍCIO FIOREESPECIAL PARA A FOLHA
O Cartão Recomeço ganhou instantaneamente o pejorativo apelido de "bolsa crack", mas está mais próximo de uma "bolsa internação".

É um programa de financiamento público de comunidades terapêuticas privadas por meio dos R$ 1.350 mensais que serão recebidos pelos familiares dos dependentes internados.

O abuso do crack, associado a profundas vulnerabilidades sociais, é problema grave, mas está levando o poder público a uma sucessão de políticas sem debate mais sistemático com especialistas.

A internação é um tratamento indicado para apenas uma parte dos dependentes de drogas e por pouco tempo.

Por ser um isolamento artificial, produz a sensação de proteção, daí seu apelo em situações dramáticas. Por outro lado, como outros tratamentos, mostra-se ineficaz na maioria das vezes.

É preocupante que as políticas coloquem a forma mais radical de tratamento como seu foco, pois isso parece muito mais aplacar os anseios de quem está do lado de fora do que se basear em evidências científicas.

Também é preocupante o financiamento direto de entidades privadas em detrimento do sistema público de atenção à saúde mental --que, não há dúvidas, precisa ser aperfeiçoado e ampliado.

Sem entrar em controvérsias conceituais, a ação suscita questões pontuais.

O Estado será capaz de garantir a laicidade do tratamento, posto que um número enorme de comunidades terapêuticas são religiosas?

Quais serão as formas de controle e os critérios de avaliação de qualidade e eficiência desse tratamento em médio e longo prazo?

Qual é o plano de auxílio para esses dependentes e suas famílias na fase mais difícil do tratamento, que é o retorno às ruas?

Com longo histórico de internações dos dependentes, como evitar que o sofrimento deles não estimule um lucrativo e perene negócio financiado por verba pública?


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