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25/05/2014

Consumo de álcool no Brasil cai, mas ainda supera média mundial, diz OMS

Consumo de álcool no Brasil cai, mas ainda supera média mundial, diz OMS

Brasileiro ingere 8,7 litros da bebida pura por ano — no mundo, a média é de 6,2 litros anuais por pessoa

Bebida alcoólica: OMS diz que álcool causou quase 6% de todas as mortes no mundo em 2012
Bebida alcoólica: OMS diz que álcool causou quase 6% de todas as mortes no mundo em 2012 (Thinkstock)
O abuso no consumo de álcool no Brasil caiu nos últimos dez anos, mas ainda supera a média mundial. Os dados fazem parte de um levantamento de dados de 194 países divulgado nesta segunda-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o órgão, o consumo excessivo de bebida alcoólica causou 3,3 milhões de mortes no mundo em 2012 — ou 5,9% de todos os óbitos no ano.
De acordo com dados mais recentes da OMS, o consumo médio de álcool no mundo entre pessoas acima de 15 anos em 2010 era de 6,2 litros por ano por indivíduo. Já no Brasil, uma pessoa dessa faixa etária ingere, em média, 8,7 litros de álcool por ano — há dez anos, o índice era de 9,8 litros. A OMS prevê, no entanto, que a ingestão no Brasil pode voltar a crescer, ultrapassando 10 litros por ano por pessoa. Nas estimativas, é considerado apenas o volume de álcool ingerido, não o volume total da bebida.
O consumo de álcool entre os brasileiros é maior entre os homens. Em média, eles bebem 13 litros por ano, ante 4 litros anuais entre mulheres. Cerca de 60% do consumo total de álcool entre os brasileiros é representado pela cerveja.
Comparação — A Europa é a região do mundo com maior consumo de álcool por pessoa: 10,9 litros ao ano. No Leste Europeu, esse consumo ultrapassa os 12,5 litros anuais. Alguns dos países que mais ingerem álcool no mundo são Bielorrússia (17,5 litros por pessoa por ano), Lituânia (15,4 litros) e Rússia (15,1 litros).
A segunda região do globo que apresenta o consumo mais elevado de álcool é a América Latina — são 8,4 litros por pessoa anualmente, em média. Os países com a maior ingestão de álcool por pessoa na região são Chile (9,6 litros ao ano), Argentina (9,3 litros), Venezuela (8,9 litros), Paraguai (8,8 litros) e, em quinto lugar, o Brasil (8,7 litros).
Excesso — O que mais preocupa a OMS são os casos de abuso no consumo. Segundo a OMS, a bebida alcoólica não apenas pode provocar dependência, mas também levar ao desenvolvimento de outras 200 doenças. "É preciso fazer mais para proteger a população das consequências negativas à saúde do consumo de álcool", disse Oleg Chestnov, especialista em doenças crônicas e saúde mental da entidade.

Consumo total de álcool per capita, em litros de álcool puro, em 2010 (pessoas acima de 15 anos)


Retirado de Veja. Para saber mais, clique aqui.

10/05/2014

Carl Hart: "O vício é efeito de um mundo doente, não a causa"

Carl Hart: "O vício é efeito de um mundo doente, não a causa"

Para o professor de neurociência da Universidade Columbia, usuários de drogas precisam de oportunidades e atenção, não de cadeia

Carl Hart cresceu num bairro de negros em Miami, nos Estados Unidos. Usou drogas, roubou e portou armas. Em iguais condições, amigos seus foram presos e continuaram marginais. Hart não. Tornou-se professor de neurociência da Universidade Columbia – é o primeiro americano negro professor de ciências na instituição, fundada em 1754. Mostrou que ratos, livres para consumir drogas, o fazem até morrer – mas deixam o vício diante de outras recompensas. Hart veio ao Brasil divulgar o livro Um preço muito alto(editora Zahar). Na obra, ele conta sua história e afirma que o problema não é a liberdade de consumir drogas, mas as condições sociais que levam muitos ao vício.

ÉPOCA – Apesar de haver tantos viciados, o senhor afirma que o consumo de drogas não é um problema. Por que não?

Carl Hart – O uso de drogas não é o problema. O principal problema é pensar por que um pequeno número de pessoas se entrega ao consumo de drogas. Elas se entregam por ter distúrbios psiquiátricos, podem ser depressivas, ansiosas, esquizofrênicas. Por ter alguma doença mental que as leva às drogas como tentativa de lidar com isso. Essa é uma possibilidade. Outros podem ser viciados por não ter opções melhores na vida. Para eles, o uso de drogas parece a melhor opção. E há quem se vicie porque não aprendeu as habilidades adequadas para lidar com o uso de substâncias ou atividades potencialmente perigosas. Quando pensamos sobre o uso de drogas, é importante entender que a maioria dos que usam essas drogas – cocaína, maconha – não tem um problema. Se a maioria dos que usam cocaína não tem um problema, o problema não são as drogas, mas outra coisa.

ÉPOCA – Que outra coisa?

Hart – Falta de dinheiro ou alternativas, que acabam por tornar a droga uma opção melhor, distúrbios psiquiátricos ou imaturidade para lidar com algo que, consumido em excesso, pode se tornar perigoso. Esses aspectos devem ser tratados. Nenhum deles tem a ver com as drogas em si.

ÉPOCA – Em sua visão, viciados sofrem pela falta de melhores oportunidades, de atenção à saúde mental e educação. Nada disso tem a ver com as drogas. Mas liberar o consumo de entorpecentes não resolveria as falhas da sociedade. Não poderia agravar o problema das vítimas dessas falhas, ao facilitar o acesso às drogas? 

Hart – Portugal descriminalizou as drogas há 13 anos e não agravou seus problemas. Pelo contrário, tornou-se um exemplo mundial de reabilitação de viciados.


ÉPOCA – Em entrevista a ÉPOCA, João Goulão, responsável pela política antidrogas de Portugal, disse que o sucesso no tratamento de viciados foi favorecido pelo tipo de droga popular no país, a heroína. É possível substituir a heroína por drogas menos viciantes, numa terapia gradual. Não há substituto para crack e cocaína, drogas populares no Brasil.

Hart – Quando oferecemos a droga substituta, também garantimos ao viciado o acesso a tratamento médico e psicológico. É um programa. Podemos fazer o mesmo com a cocaína, mas não fazemos.


ÉPOCA – Goulão admite que o uso de drogas em Portugal aumentou após a liberação. O senhor não teme o aumento do consumo?

Hart – O consumo de álcool é legal no Brasil?


ÉPOCA – Sim.

Hart – Então qual a resposta para sua pergunta?


ÉPOCA – O álcool é liberado no Brasil e, nem por isso, as consequências do consumo deixam de ser um problema social.

Hart  –  Se o alcoolismo é um problema no Brasil, você diria que álcool deveria ser proibido?
ÉPOCA – Qual sua opinião?

Hart – É claro que não diria. Porque a maioria das pessoas que consomem álcool não tem nenhum problema. Esse é meu argumento. Sempre haverá quem tenha problemas com atividades potencialmente perigosas, como beber álcool, dirigir rápido demais, fazer sexo sem proteção ou consumir drogas hoje ilícitas. É trabalho da sociedade descobrir como diminuir o risco dessas atividades. Queiramos ou não, elas continuarão aí. É estúpido apenas sugerir a proibição dessas atividades. Não estaremos lidando com elas, nem agindo como uma sociedade responsável.
ÉPOCA – Dirigir rápido demais ou fazer sexo sem proteção são atividades potencialmente perigosas, mas incapazes de provocar dependência química, como ocorre com o uso de crack e cocaína. É coerente defender a liberdade de consumo de substâncias capazes de tolher a liberdade de escolha?

Hart – Não há nenhuma droga que, uma vez experimentada, retire de imediato a possibilidade de escolha. Esse é um conceito errado, um mito. As drogas mais viciantes são nicotina e tabaco. Um em cada três usuários de tabaco torna-se viciado. Um em cada cinco usuários de heroína desenvolve o vício. O álcool também vicia cerca de 20% dos usuários. A cocaína vicia menos, um em cada seis usuários, e só então vem a maconha, capaz de viciar 9%.
ÉPOCA – Não avaliamos o risco de uma droga apenas por seu poder de causar dependência. O cigarro pode ser mais viciante que a cocaína, mas afeta menos o comportamento do usuário.

Hart – Se eu pudesse pegar carona com um motorista sob efeito de álcool ou cocaína, escolheria o usuário de cocaína. O álcool deixa o indivíduo menos vigilante e mais distraído, impede que ele dirija direito. A cocaína, ao contrário, o deixa mais alerta. Nas Forças Armadas dos Estados Unidos, pilotos de avião tomam anfetaminas para ficar alertas em missões longas. A noção de que alguém não pode usar drogas e cumprir tarefas é errada. Há quem use essas drogas o tempo todo e cumpra as tarefas que tem de cumprir. Alguns tomam doses um pouco altas. Mas, outra vez, isso está relacionado à educação para um consumo seguro e responsável.
ÉPOCA – Como podemos educar para um consumo de drogas seguro e responsável?

Hart – O primeiro passo é combater a desinformação sobre as drogas. Há muitos mitos, muita informação incorreta.
ÉPOCA – Por que, em sua opinião, o público é desinformado sobre as drogas?

Hart – O público é informado sobre drogas pelas pessoas erradas. Damos atenção exagerada a agentes de segurança pública, como policiais. Eles não têm nenhuma instrução em farmacologia, psicologia ou qualquer outra ciência comportamental. Damos atenção a políticos. Interessa a eles propagar mitos. Ao culpar as drogas por todo tipo de problema, eles se veem desobrigados de encontrar soluções para ajudar quem precisa, como os mais pobres. Tudo o que os políticos têm a dizer é: “Enfrentaremos as drogas”. Eles precisam, na verdade, enfrentar problemas como moradia e desemprego. Se os políticos não lidam com essas questões, é óbvio que a sociedade terá problemas. O vício em drogas é efeito de um mundo doente. Não a causa.
ÉPOCA – O senhor defende a liberação ou a descriminalização do consumo de qualquer droga?

Hart – Defendo a descriminalização. Quer dizer: não prender usuários por porte de drogas e não registrar o consumo na  ficha criminal. A polícia deixaria de prender e encarcerar gente que nada tem de criminosa. O dinheiro gasto em perseguir e encarcerar usuários poderia ser investido em iniciativas que realmente ajudem a sociedade.
ÉPOCA – O senhor não acha que usuários de drogas continuarão alvo de preconceito, com ou sem registro criminal?

Hart – Os três últimos presidentes dos Estados Unidos usaram drogas e nunca foram presos. Livres, conseguiram ser presidentes. Estamos cercados de usuários de drogas respeitáveis, que colaboram para uma sociedade melhor. Para aqueles que são presos, os horizontes pessoais ficam reduzidos.
ÉPOCA – O senhor é o primeiro negro americano a ensinar ciências na Universidade Columbia. Como a falta de negros na comunidade científica distorce as conclusões de pesquisas e a produção de conhecimento?

Hart – Não sei se a falta de negros na comunidade científica afeta a produção de conhecimento mais do que qualquer outra coisa em nossa sociedade. A questão racial influencia tudo. Sendo um cientista negro, um dos aspectos que mais me chamam a atenção é o grande número de negros presos por falta de informação sobre as drogas. Parece-me antiético não dizer nada sobre a grande injustiça racial existente nas prisões, seja nos Estados Unidos, seja no Brasil. Isso me obriga a denunciar.

Saiba mais aqui.

07/05/2014

Mujica regulamenta mercado de maconha no Uruguai

Mujica regulamenta mercado de maconha no Uruguai

Medida tem efeito imediato, mas droga só deve começar a ser vendida a partir do fim do ano

Folha de maconha
Folha de maconha (Reuters)
Cinco meses após ser aprovada pelo Parlamento, a lei que regulamenta o mercado de maconha no Uruguai foi promulgada nesta terça-feira pelo presidente José Mujica. A medida tem efeito imediato, mas, na prática, o mercado da droga ainda vai demorar alguns meses para começar a operar. 
De acordo com a lei, a droga poderá ser obtida por meio do cultivo próprio (máximo de seis mudas por casa), pelo consumo em “clubes canábicos” com até 45 sócios (em que o consumo anual máximo será de 480 gramas anuais por sócio) e pela compra em farmácias. Neste último caso, a produção vai ser controlada pelo governo em áreas públicas e cada uruguaio registrado poderá comprar no máximo 10 gramas da droga por semana. Indivíduos não poderão plantar a erva para venda. 
O consumo, a produção e a venda serão restritos para uruguaios maiores de 18 anos ou residentes permanentes. Todos deverão se registrar em uma das categorias do Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (Irca). A restrição da compra para estrangeiros visa evitar uma espécie de “turismo da erva”. Ainda assim, críticos da lei apontaram que existe o risco de aparecer um mercado paralelo de venda para estrangeiros. 
O governo plantará até cinco variedades diferentes da cannabis, contendo um nível máximo de 15% de THC, substância responsável pelos efeitos da erva. Já os clubes e os cultivadores autônomos poderão ter as variedades que quiserem. 
Cada embalagem vendida pelo governo terá um código de barras e será registrada em um banco de dados que permitirá às autoridades rastrear a origem e determinar sua legalidade.
Com isso, o Uruguai transforma-se no primeiro país do mundo a estabelecer um mercado nacional com regras para o cultivo, a venda e o uso da droga.
Embora as pesquisas indiquem que mais de 60% dos uruguaios rejeitam a legalização do mercado da maconha, uma consulta recente da consultoria Cifra para o semanário Búsqueda revelou que, com a lei aprovada, 51% da população preferem mantê-la em vigor para observar como funciona antes de anulá-la imediatamente.
Produção - No momento, definir a quantidade de maconha consumida pela sociedade uruguaia para estabelecer quanto o Estado vai produzir é uma das principais preocupações das autoridades.
Com a regulamentação da lei, começará a funcionar esta semana o Ircca, organismo que terá nas mãos o controle de toda a cadeia produtiva, da importação de sementes à venda da substância em farmácias.
Julio Calzada, secretário da Junta Nacional de Drogas (JND), admitiu nesta segunda-feira que tem preocupações "infinitas" sobre como será implementada essa regulamentação para que o Ircca estabeleça o volume de produção.
Segundo Calzada, são consumidas no Uruguai entre 18 e 22 toneladas de maconha por ano, o que implicaria cultivar um máximo de 10 hectares. A ideia do governo é produzir exclusivamente o necessário para o consumo interno.
As autoridades pretendem fazer a primeira chamada a particulares interessados em plantar em até 20 dias. Enquanto isso, será definido qual será o terreno estatal onde serão feitos os cultivos e se a segurança do local ficará a cargo das Forças Armadas, uma possibilidade proposta pelo presidente Mujica.
Segundo o governo, a maconha legalizada chegaria, assim, no fim do ano às farmácias ao preço de 20 a 22 pesos por grama (pouco mais de 2 reais).
A maconha será taxada por meio de um imposto para produtos agropecuários, que será recolhido no Estado da produção. No entanto, a venda da droga não será taxada com um imposto que é cobrado para bebidas alcoólicas e o tabaco. Advogados tributaristas ouvidos pelo jornal El Observador afirmam que esse regime tributário é favorável à maconha.
Cigarro – E enquanto a maconha começa a ganhar o mercado uruguaio, o tabaco sofre uma nova ofensiva no país. Nesta terça-feira, o Senado local aprovou a proibição da publicidade e a exibição de cigarros em pontos de venda. A justificativa do projeto é desestimular o consumo, principalmente entre os jovens. Comerciantes ouvidos por jornais uruguaios reclamaram da iniciativa. O projeto segue agora para a Câmara dos deputados.
(Com agência EFE e Estadão Conteúdo)
Veja mais, aqui.







30/04/2014

Mão ao alto


Mão ao alto

por Taísa Szabatura DE: SUPERINTERESSANTE

INDICADO PELA NOSSA PSICÓLOGA: Claudia Ferreira Gomes

Um cara jovem, bonito, conquistador, que namora a Scarlett Johansson, mas prefere ver pornografia online. Parece filme, e é: Como Não Perder Essa Mulher estreia em dezembro. Mas, Scarlett à parte, o enredo não está tão longe da realidade. Com a banda larga e bundas variadas a alguns cliques de distância, todo mundo já deu uma espiadinha. O problema é que muitos não querem fazer outra coisa. Cada vez mais gente abre mão de uma pessoa real para passar horas se masturbando na frente de uma tela.


O sexo solitário sempre teve sua graça - um estudo recente da Universidade de Cambridge concluiu que pornografia é tão viciante quanto drogas. Mas por que só agora aparecem os viciados? A resposta está na melhor ferramenta já criada na história da humanidade para estoque, distribuição e consumo de pornografia: a internet.



Até o advento da rede mundial de computadores, você precisava ir a uma banca de jornal para comprar uma revista de mulher pelada. Se havia certo constrangimento em tirar um filme pornô na locadora, imagine alugar vários. Hoje, você assiste no celular tudo que tinha na locadora - e muito, mas muito mais. Tara por animais, anões, amputações, fezes, palhaços. Na rede, os seus desejos mais íntimos encontram uma via de expressão. E ninguém precisa ficar sabendo.



DARWINISMO E ONANISMO



A biologia evolutiva explica por que alguns não conseguem trocar sites pornô por nada neste mundo. A masturbação surgiu para que o estoque de sêmen fosse renovado, e assim uma semente mais jovem e competitiva pudesse brigar com a de outros machos. A pornografia simula e acelera esse processo: seu cérebro acredita que, a cada novo vídeo, uma fêmea diferente está sendo fecundada. Essa é a razão pela qual os homens são maioria nesse mundo. É difícil ter uma estatística exata, mas estima-se que 70% do público dos sites adultos é masculino. As mulheres ficariam com os 30% restantes - um número que vem crescendo.



O curioso é que a masturbação não vem de um instinto animal, mas da imaginação humana. Sabemos disso graças a abnegadas como a antropóloga E.D. Starin, que passou cinco anos na Gâmbia observando macacos e registrou apenas cinco casos de masturbação com ejaculação. Detalhe: os machos estavam em contato visual com outras fêmeas, algumas delas copulando com outros machos - uma versão selvagem do Xvideos.



Ou seja, por mais que chimpanzés cocem a virilha no zoológico e constranjam visitas escolares, o homem ainda é o único animal que se masturba de forma consciente, para atingir o orgasmo. Jesse Bering, doutor em psicologia e autor do recém-lançado Devassos por Natureza: Provocações Sobre Sexo e a Condição Humana, contexto é fundamental. "Da próxima vez que você se sentir no clima, deite na cama, apague a luz, não pense em nada e não veja nada. Em seguida tente só com o toque atingir o clímax." Acredite, não é tão fácil. É a cognição humana que faz com que um adulto se masturbe a cada 72 horas - em média, com ampla e folclórica variação. O problema é quando a cognição vira compulsão.



CINCO SENTIDOS CONTRA UM



O estudo de Cambridge, citado no começo do texto, mostrou que o pornô vicia da mesma maneira que algumas substâncias, desregulando o cérebro. Quando um vídeo proporciona prazer, esse prazer leva você a buscar outro vídeo. Cada novo clique é um estímulo para o centro de recompensa, que se torna dependente dessa anestesia constante. "A pornografia, como o álcool e as drogas, enfraquece nossa capacidade de enfrentar certos tipos de sofrimento (...) ela reduz a nossa capacidade de tolerar nossos dois humores ambíguos e oscilantes: a preocupação e o tédio", escreve o filósofo Alain de Botton em Como Pensar Mais Sobre Sexo. Longas maratonas no PornTube podem ser uma fuga de problemas.



Outra coisa: chega uma hora em que os vídeos corriqueiros não são mais suficientes. Você não se excita mais vendo o papai-e-mamãe de sempre, nem o mamãe-e-mamãe ou papai-e-papai. Como nas drogas, você vai desenvolvendo uma tolerância e precisa de mais para se satisfazer. Logo, logo, o sujeito está indo atrás de coisas pesadas e ilegais, como cenas reais de estupro e pedofilia. E é aí que muitos decidem procurar ajuda.



Há algum tempo, já existem grupos de apoio para usuários compulsivos de pornografia, mas agora surgem na internet grandes fóruns para discutir o tema e buscar soluções - nem que seja encontrar disposição para ir ao supermercado ou ao banco. O maior portal sobre o tema se chama yourbrainonporn.com e lá você encontra de estudos científicos a depoimentos informais. Gary Wilson, o psiquiatra por trás da ideia, chegou a dar uma palestra no TED sobre os efeitos da pornografia no cérebro - cujo vídeo alcançou uma audiência digna de hit pornô, 2 milhões de acessos. "As pessoas estão começando a questionar se é isso que elas querem para as suas vidas. Muitas chegam à conclusão de que pornografia demais é um atraso", diz Wilson. O psiquiatra também atribui à pornografia mudanças de etiqueta ("nossas avós não faziam sexo oral e anal como se faz hoje") e estética: "Depilações radicais, cirurgias íntimas e clareamento dos genitais, antes restritos a atrizes pornô, passaram a fazer parte do cotidiano".



Mas o vício em pornografia pode estar trazendo problemas mais graves: disfunção erétil e dificuldade para ejacular têm complicado a vida de homens cada vez mais jovens. E há casos de quem não consegue, ou nem faz mais questão, de conhecer uma pessoa real ou sair de casa. Para a filósofa Márcia Tiburi, isso acontece porque é mais fácil se relacionar com um avatar: "Uma pessoa concreta me obriga a tomar posição, a reagir, a interagir. Uma imagem é só um objeto que se submete à manipulação".



JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS



Quer dizer que fizemos a Revolução Sexual para ir para casa fazer sexo com nós mesmos? O futuro é um quarto escuro iluminado pela tela de um tablet trepidante? Calma. Não há nada de errado com a masturbação, nem com pornografia, desde que elas não afetem a sua vida (ver teste ao lado).



Aliás, tirando quem realmente tem um problema sério, o que mais se observa é uma tentativa do "uso consciente" dos sites adultos. Sabe a tendência que já se espalhou de dar um tempo nas redes sociais? Pois é, muitos jovens têm chegado à conclusão que, assim como o uso exagerado do Facebook e Twitter, a pornografia está tirando um tempo precioso de suas vidas. Passar a noite de vídeo em vídeo pode ser prazeroso no curto prazo, mas vale a exaustão do dia seguinte? "Do modo como é hoje, a pornografia pede que deixemos para trás nossa ética, nosso senso estético e nossa inteligência", constata Alain de Botton. Vem daí aquela sensação de repugnância e derrota quando a euforia chega ao fim. Mas não precisa jogar o computador fora, abandonar tudo e ir morar numa montanha. Assim como com outras tentações, você precisa estar consciente do risco que corre e simplesmente apreciar com moderação. "Acho que essa reflexão acerca do nosso comportamento é mais enriquecedora que o resultado de qualquer estudo", diz Wilson.



O certo é que a pornografia nunca vai acabar. Ela é fundamental na vida sexual de quem menos se imagina. No livro Bunny Tales - Behind Closed Doors at the Playboy Mansion ("Contos da Coelhinha - Atrás de Portas Fechadas na Mansão da Playboy", sem edição brasileira), a modelo Izabella St. James conta como foi ser parte do harém do fundador da Playboy. Aos 78 anos, Hugh Hefner ainda realizava orgias todas as quartas e sextas. E, na hora de finalizar, dispensava as namoradas: gozava assistindo vídeos.

A internet é pornô
30% de tudo que circula na rede é pornografia

12 min é o tempo médio que uma pessoa passa num site de pornografia

Entre os usuários de sites pornô 70% são homens / 30% mulheres
O portal pornô Xvideos tem o triplo de acessos que o site da CNN    

Foto: gettyimages.com

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29/04/2014

Da terra do crack ao campo de refugiados

Da terra do crack ao campo de refugiados


*Auro Danny Lescher - O Estado de S.Paulo
Há décadas o paulistano tem se acostumado a conviver com um fenômeno bizarro: centenas de pessoas, homens, mulheres e crianças, descalças, cinzas e esfarrapadas habitando um território do tamanho de três quarteirões bem no coração da cidade. De longe se observa um amontoado de zumbis vagando a esmo, ciscando o chão na busca frenética por mais uma pedra de crack.
A droga, que se cheira, se pica, se ingere ou se fuma, é a maneira muitas vezes desesperada que o sujeito tem para alterar a sua percepção sobre o mundo (externo e interno). É, também, um potente anestésico que ameniza a dor de quem vive a memória de uma grande ruptura: os exilados, os imigrantes, os soldados no front, os loucos, os moradores de rua. Podemos até afirmar que, nessas situações extremas, o exílio químico passa a ser uma fórmula eficaz para tornar suportável o insuportável.
Psicologicamente, é muito oneroso para a consciência coletiva e para a de cada cidadão quando somos obrigados a nos adaptar, a tornar "natural" algo que sabemos ser bizarro. Porque todos nós, os paulistanos inseridos e produtivos e os que vivem fissurados na Cracolândia, temos sempre muita fome de dignidade.
Até dois anos atrás, a metodologia prioritariamente utilizada pelos governantes, seja na esfera municipal, na estadual ou na federal, para o enfrentamento desse complexo fenômeno social vinha sendo a da truculência policial, a repressiva. É claro que essa abordagem continua sendo necessária quando estamos a enfrentar o tráfico de drogas e o crime organizado. Mas ela é absolutamente ineficaz para a revitalização daquele território, como os anos têm demonstrado, exatamente porque nega a complexidade da situação.
O Projeto Quixote, do qual sou coordenador, está em campo há 18 anos ajudando crianças e jovens exilados no centro da cidade de São Paulo a estabelecerem novas conexões consigo mesmos e com a sua comunidade e sua família de origem, na maioria das vezes localizada nos municípios da região metropolitana de São Paulo. A palavra-chave da nossa metodologia é "mátria". Um neologismo do poeta argentino Ernesto Sábato. Ele falava que, das experiências demasiado humanas, a que mais o emocionava era a cena do imigrante exilado que, da popa do navio, vê a costa da sua pátria se distanciando, sem ao menos saber se algum dia voltará a reencontrá-la. Tão forte, não deveria se chamar Pátria, mas Mátria.
Em nosso trabalho, esse termo se refere aos inúmeros aspectos físicos e emocionais relacionados à comunidade e à família de origem da criança, mas também a outros aspectos, mais profundos, psicológicos, relacionados à própria construção da identidade.
A metodologia do rematriamento surge da constatação de que essas crianças e jovens nas ruas são refugiados urbanos, à espera de oportunidades de retorno às suas mátrias. Acompanhamos, às vezes por anos, cada um desses pequenos refugiados, tecendo, juntos, sua história atual e passada e os seus desejos futuros (uma espécie de autobiografia autorizada). Acompanhamos também as famílias na conexão com a rede local de atendimento: saúde, assistência social, educação, lazer e cultura.
A Cracolândia é um campo de refugiados informal. É de lá que os exilados gritam, têm lugar, têm visibilidade, saem na mídia, entram na agenda dos políticos e governos. Eles batem à porta do inferno para não sucumbirem às armadilhas que a idade da pedra lhes impõe - o lado primitivo da sociedade que não ousa mudar e o do sujeito, que, sentindo-se e sendo tratado como resíduo, se refugia no crack.
Desde o início do ano passado, algo diferente começou a aparecer: trabalhadores da área da saúde se juntaram aos heróis da assistência social. A agenda do enfrentamento ao crack passou a ser prioridade dos governos. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou uma pesquisa estimando em 370 mil o número de pessoas que fazem uso do crack no Brasil. Convenhamos, um ponto a mais para a complexidade do problema.
Há ainda muito que caminhar, sobretudo porque a área da saúde também tem a sua truculência. A internação compulsória tem-se mostrado ineficiente, porque, como vimos, o uso do crack na Cracolândia não se trata pura e simplesmente de uma questão de dependência química. Por isso me parece ingênuo o jogo pseudoideológico segundo o qual quem se põe a favor da internação compulsória é contrário à estratégia de redução de danos, e vice-versa. Sejamos coerentes, em vez de pensarmos em salas de uso protegido do crack (como ocorre na Holanda e em outros países), devemos pensar em salas humanitárias, um híbrido de Poupatempo com Cruz Vermelha.
O que estamos acompanhando neste início de ano com o programa Braços Abertos é uma novidade que merece ser celebrada. Oferecer perspectivas de dignidade aos exilados da Cracolândia (bolsa/trabalho, uniforme, comida do Bom Prato, habitação em hotéis da região, etc.) é a metodologia mais eficaz. Trata-se de uma abordagem que poderíamos chamar de humanitária.
Os habitantes da terra do crack não são toxicômanos irreversíveis, mas pessoas que buscam no exílio a afirmação de sua vida e algum retorno às suas mátrias.
Temos a saudável tendência natural de aceitar como verdadeiro aquilo que pode ser enunciado. Trata-se do reencontro tenso e intenso de alguém consigo mesmo, e ser o narrador da própria história é vital para se sentir razoavelmente confortável dentro do próprio corpo. De corpo e alma. Esse reencontro tem que ver com o amor próprio, mãe e pai de todos os amores. Uma boa tradução para a palavra dignidade. Matéria-prima para a narrativa do sujeito, como ser autônomo, único, absolutamente singular, que se tece com uma linha que não separa, aliena nem esquarteja, mas alinhava, define e protege.
*PSICOTERAPEUTA, PSIQUIATRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, É COORDENADOR DO
PROJETO QUIXOTE
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