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13/03/2013

Dartiu na Veja de 1995: As drogas são eternas.


Vale a pena ler a entrevista dada pelo Psiquiatra e Coordenador do Proad, Dr. Dartiu Xavier da Silveira em 1995 a revista Veja. 
Esta reportagem foi retirada e transcrita do acervo digital da Revista VEJA.

AS DROGAS SÃO ETERNAS

Psiquiatra lembra que a humanidade sempre consumiu drogas e diz que é preciso abrir o debate sobre sua legalização.
VEJA, 20 de dezembro de 1995. 
Autora: Flávia Varela
Transcrição: Paulo Roberto Brier D'Auria

Foto: VEJA
Em seus plantões no pronto socorro de psiquiatria do Hospital São Paulo, no início dos anos 80, o recém-formado Dartiu Xavier da Silveira Filho ficava especialmente intrigado com os pacientes viciados em drogas. “Pareciam gente como a gente. Não transpareciam nenhum transtorno mental”, lembra. Conversando com eles, mais interessado em compreender do que em recriminar, o médico começou a tentar entender “qual era a dessa turma”.
Depois de formado e pós-graduado em psiquiatria, Silveira foi fazer especialização em farmacodependências no Centre Medial Marmottan, em Paris. Em 1986, criou o Programa de Orientação e Assistência a dependentes, Proad, ligado à Escola Paulista de medicina da Universidade Federal de São Paulo. O Proad já atendeu cerca de 2200 pacientes e é hoje um dos centros de atendimento a viciados mais conceituados do país. Com quinze anos de experiência no assunto, consultor científico em farmacodependência da Organização Mundial de Saúde, o psiquiatra está cada vez mais seguro de que há muita mitificação em relação às drogas. “Acho  que a droga desperta um fascínio. No usuário, o fascínio é claro. Mas ele também se exerce sobre quem tem medo. Por não entender, as pessoas rejeitam e tratam as drogas como se fossem o grande mal da sociedade. Não são”, conclui.
Silveira declara-se fascinado pela paradoxal questão das drogas, “substâncias capazes de proporcionar tanto êxtases prazerosos incríveis quanto descidas radicais ao fundo do poço existencial”.  Se ele já experimentou? “Essa é uma pergunta proibida”, responde, alegando rigor profissional. Aos 40 anos, casado e pai de três filhos 10, 6 e 5 anos,  diz que pretende tratar o assunto de drogas em casa com conversa e “sem radicalismo”, quando achar que for oportuno ou quando for solicitado. Dias depois de ter lançado o livro “Drogas – Uma compreensão psicodinâmica das farmacodependências”, deu a seguinte entrevista a VEJA:


VEJA:  Por que as drogas provocam tanto medo na sociedade?
SILVEIRA: Porque se confunde uso com dependência. Uso de drogas existiu, sempre vai existir e não é uma coisa nociva.

VEJA: Então qual o perigo das drogas?
SILVEIRA: O problema é a dependência. As pessoas confundem dependência com uso recreativo e ocasional, que não costuma ter problema nenhum. É o mesmo caso do álcool. A maioria das pessoas que usam álcool o faz no contexto recreacional, e a gente nem pensa em chamá-las de alcoólatras. O mesmo é válido para as drogas ilícitas. Nem todo mundo que usa é drogado. Estudos da Associação Psiquiátrica Americana mostram que a grande maioria das pessoas que consomem drogas ilícitas não é nem nunca será dependente.

VEJA: Quantos usuários se viciam em drogas?
SILVEIRA: Os números dependem da droga e variam um pouco de acordo com as pesquisas. Em relação à maconha, mais de 90% não são dependentes. Sobre a cocaína os níveis são mais questionáveis. Entre 60% e 70% usam cocaína apenas no contexto recreacional.

VEJA: Não se deve encarar o usuário de droga como um dependente potencial?
SILVEIRA: Isso é preconceito. Houve uma época em que se dizia que o uso ocasional de maconha não era problemático, mas seria a porta de entrada para as dependências. Esse conceito não se comprova cientificamente. A maioria dos que fumam maconha a usa para se divertir, usa por um tempo limitado e depois abandona.

VEJA: Existe perigo maior em algumas drogas do que em outras?
SILVEIRA: De modo geral, o uso recreacional não é perigoso para nenhuma droga. Mas é lógico que existem diferenças. Por exemplo, a cocaína injetável é mais perigosa do que a aspirada. Não apenas porque seu efeito é mais forte, mas porque quem se dispõe a injetar uma droga na veia pretende um efeito muito maior, quer fugir da realidade, sair de órbita completamente. Essa pessoa é muito mais propensa à dependência. Por esse raciocínio, podemos dizer que o consumo de heroína, crack e cocaína injetável é mais grave que um baseado de maconha.

VEJA: Qual o prejuízo das drogas para a saúde?
SILVEIRA: É bom ter claro que os prejuízos acontecem pela quantidade e frequência, portanto podem alcançar tanto quem é dependente como aquela pessoa que usa muito, mas não pode ser considerada dependente. O uso crônico de cocaína pode levar a problemas graves. Um deles é o infarto precoce, que pode provocar a morte de pacientes jovens. Outro efeito possível são os microinfartos, quando há obstrução de pequenas artérias. Isso pode produzir a perda de funções cognitivas como a inteligência, a capacidade de abstração, a memória e a organização de ideias. A maconha é bem menos agressiva. Em alguns casos, há um quadro de perda de motivação. O álcool é das drogas mais lesivas. Existem até demências provocadas por ele. Podem acontecer hemorragias digestivas, problemas de fígado e disfunções endocrinológicas.

VEJA: O viciado usa droga com objetivo diferente do usuário?
SILVEIRA: O viciado em droga se encontra numa situação vivencial insuportável. Uma situação de que ele não consegue fugir nem enfrentar. Ele só tem uma alternativa, modificar sua percepção da realidade e, assim, deixar de sofrer. Ser depende de droga não é ter o desejo de usar drogas, é não ter a possibilidade de não usá-las.

VEJA:  Por que alguns se tornam dependentes e outros não?
SILVEIRA: Nunca se sabe de antemão quem vai tornar-se dependente. Basicamente, tem a ver com características biológicas, influências sociais e culturais e o perfil psicológico.

VEJA: Existem características psicológicas comuns aos que se tornam viciados?
SILVEIRA: Em geral, o viciado apresenta uma fragilidade do ego. Mede-se isso pelo nível de recursos que a pessoa tem para lidar com suas dificuldades. Há também a dificuldade de simbolização, que corresponde à capacidade de fantasiar. Algumas pessoas precisam de uma droga, de algo químico, para entrar no mundo da fantasia. Quanto ao que leva a essas fragilidades, podemos citar diversos fatores e mesmo enfatizar o papel das famílias problemáticas.

VEJA: A família do dependente tem culpa pelo vício?
SILVEIRA: Não é algo tão linear assim. Mas em alguns casos o drogado é um emergente patológico de uma família disfuncional. É ele que apresenta o problema, mas a família inteira está doente. Diversos drogados têm a história de uma figura paterna ausente, demissionária, pouco participante.  Outros podem ter tido uma mãe ambivalente. Uma mãe que em situações de extrema fragilidade não dá suporte emocional e, quando deveria soltar o filho no mundo, protege-o excessivamente. Mas aqui influem também aspectos socioculturais.

VEJA: Existe uma cultura no Brasil que favorece o contato com a droga?
SILVEIRA:Existe em todo o Ocidente. Isso é facilmente percebido com o cigarro e o álcool. Mas também há uma influência do meio social sobre as drogas ilegais. Para um grupo de adolescentes, o primeiro baseado de maconha é sinal de que o indivíduo já está aceito no grupo. Faz parte dos rituais de iniciação, como a primeira experiência sexual.

VEJA: Se os aspectos psicológicos e ambientais são tão importantes, pode-se afirmar que a dependência não tem a ver com quantidade e frequência do consumo?
SILVEIRA: Não há uma relação obrigatória. É claro que, quanto maior a frequência e a quantidade, maiores as chances de você já estar chegando ao limite da dependência. Se você bebe quando chega de noite em casa para dar uma desbandeirada, ao sair com os amigos, é uma coisa. Se você começa a ter de tomar um trago de manha para ir trabalhar, deixa de ser recreacional. A partir de certo nível, torna-se incompatível uma frequência alta com o uso recreativo.

VEJA: O que causa maior dependência: o efeito psicológico da droga ou químico?
SILVEIRA: Hoje existem remédios com os quais fica facílimo tirar alguém da dependência física. Existem remédios para dependências químicas de álcool, derivados de ópio como a heroína, benzodiazepínicos e barbitúricos. A cocaína e a maconha não causam dependência física, mas o individuo volta a consumir por causa da dependência psicológica. A partir desse dado se percebeu que a dependência psicológica é muito mais importante na manutenção do vicio do que a física. E esta existe para todas as drogas.

VEJA: Como os pais devem lidar com o conhecimento de que o filho usa drogas?
SILVEIRA: É uma questão muito difícil de lidar. O que a gente sabe é que a angustia dos pais não vai resolver o problema nem evitar que o filho use droga. O que eu tento passar par aos pais é que o mais importante não é se o filho usa drogas ou não, mas como está a qualidade de vida global dele.

VEJA: O que deve fazer o pai que encontra um baseado de maconha na mochila do filho?
SILVEIRA: A gravidade de encontrar um baseado é a mesma de o pai perceber que o filho chegou alto, bêbado, de uma festa. A atitude adequada é conversar. Descobrir o que aquilo representa para o filho. Saber se ele está bebendo demais, se precisa do álcool. Se ele não bebe, não consegue encontrar-se com a namorada? São essas informações que vão permitir saber se o uso da droga está ficando problemático.

VEJA: O consumo de álcool por jovens requer que tipo de atenção por parte dos pais?
SILVEIRA: As pesquisas mostram que, quanto mais cedo um adolescente começar a beber, maior a probabilidade de ele vir usar drogas ilegais. Ou seja, se fossemos pensar em porta de entrada, teríamos de falar do álcool e não da maconha. Quanto mais cedo ele começar a beber, também mais cedo ela probabilidade de se tornar alcoólatra.

VEJA: A droga dá prazer ao viciado para sempre?
SILVEIRA: Não, tem data marcada para acabar. É o que a gente chama de fim da lua-de-mel, quando a droga já não consegue mascarar a realidade. Nesse momento, a pessoa em geral procura ajuda. Antes disso o terapeuta não consegue agir. Nenhum terapeuta é tão gratificante para concorrer com a atração e o prazer das drogas. Aliás, isso é algo que poucos admitem. Os profissionais e a sociedade negam a realidade do prazer da droga. A droga vira um bode espiatório de tudo o que é ruim. Na verdade, a droga é algo bom. Se não fosse, seria fácil largar.

VEJA – A reposta para um tratamento de drogado está na farmacologia?
SILVEIRA – Não, embora os avanços nessa área ajudem muito. O problema é quando se atribuem poderes mágicos aos medicamentos. Aliás, a história da medicina está cheia de casos assim. No final do século passado, um laboratório desenvolveu um remédio para tratamento de dependência de ópio.  Essa droga era a morfina. A dependência de morfina tornou-se muito mais grave. No início desse século, outro laboratório lançou uma substância para tratamento dos dependentes de morfina, era a heroína. Ou seja, cada droga que ia ser o remédio ideal causava um problema pior. Por quê? Porque as pessoas estavam reduzindo o fenômeno mais amplo, a farmacodependência, a uma questão meramente biológica.

VEJA- Existe muito modismo em tratamento de drogados ?
SILVEIRA- Existe. Isso é catastrófico. A toda hora se ouve que o que resolve é um remédio e tal. Aí vem alguém e apresenta uma teoria psicológica linda. Você vai ver um fenômeno polimórfico. Cada estratégia de tratamento tem de ser personalizada. Não existem métodos miraculosos.

VEJA – É muito difícil curar um viciado em droga?
SILVEIRA – O índice de sucesso de bons serviços varia entre 30% e 40%. É baixo, o que significa que é difícil.

VEJA- O tratamento de drogados tornou-se uma indústria?
SILVEIRA – É verdade. Muitas pessoas estão vendendo ilusões e ganhando muito dinheiro. Como os traficantes.

VEJA – O senhor não acha hipocrisia liberar o consumo de um alucinógeno como o Santo Daime, com o único argumento de que será apenas em cultos religiosos?
SILVEIRA – Eu acho que o contexto, ou a cultura, em que a droga é consumida tem muito a ver com seu potencial de causar dependência. Estudos mostram que em regiões vinículas da Europa os índices de alcoolismo são o mais baixos. A criança nesses lugares, apesar de ter mais acesso ao álcool, tem a cultura de seu consumo introjetada aos poucos. Ela aprende quando beber, quanto beber, como e com quem. Isso a protege do alcoolismo. 

VEJA – Pode-se transportar esse mesmo raciocínio para argumentar a favor da legalização das drogas?
SILVEIRA – Seria o passo seguinte. Algo que a gente vai ser obrigado a pensar. Por exemplo, vemos que, apesar de ser ilícita, existe uma cultura do consumo da maconha. Muitos jovens sabem quando usar, quando não, como fazer, quando é ruim, cuidados a ser tomados. Estão mais protegidos da dependência.

VEJA – A legalização das drogas não levaria a um consumo maior?
SILVEIRA- O que se supõe é que a legalização aumentaria numero de usuários recreativos, mas não alteraria tanto o de dependentes. Quanto à liberação geral, um estudo inglês de Liverpool demonstrou que ela é tão negativa quanto à repressão excessiva. A situação ideal seria a de uso controlado.

VEJA – Como se consegue isso?
Silveira – É apenas uma legalização que funcione. Não uma liberação. O álcool, por exemplo,não é liberado, é legalizado. Existem várias normas que regem a produção, a venda e o consumo. Não se pode vender para menores, não se pode dirigir embriagado e etc. Isso funcionaria, se fosse cumprido.

VEJA – Então, o senhor é a favor da legalização?
SILVEIRA – Eu sou a favor de que se discuta a legalização. Em tese, ela é algo muito plausível. O complicado é a prática da legalização num país como o Brasil. Se o dependente pudesse buscar a droga no hospital onde se trata, não teria de se colocar em situações de risco. Esse é um grande passo da legalização. Mas, se isso acontecesse no Brasil, provavelmente haveria tráfico no hospital. Nós não respeitamos nem a lei do álcool. Mande um menino comprar álcool na esquina. Ele volta com quantas garrafas de cachaça quiser.

VEJA – O que a legalização resolve?
SILVEIRA – Protegeria os viciados de outras complicações. A droga não é proibida porque é perigosa. Ao contrário, ela se tornamais perigosa por ser proibida. A legalização mexe profundamente com os problemas de tráfico de drogas, armas, esse tipo de violência que gira em torno da droga.

VEJA – Uma atitude mais condescendente da sociedade em relação às drogas não facilitaria ainda mais a violência e a criminalidade do mundo das drogas?
SILVEIRA – É uma faca de dois gumes. Mas a função da legalização não é banalizar o uso, e sim tirar falsos mitos. O mesmo estudo de Liverpool mostrou que uma postura governamental mais tolerante, facilitando o acesso, além de não alterar o número de dependentes e diminuir a infecção por HIV, também provoca uma queda brutal nos índices de criminalidade.

VEJA – Legalizar só uma droga, por exemplo, a maconha, que se dizer mais leve, faz algum sentido?
SILVEIRA – Claro. Ao pensar em legalizar, não se é obrigado a legalizar tudo. Quando falamos de maconha, em que o contingente grande de usuários é recreativo, eu acho que estamos diante de uma questão urgente. Deveríamos ter pensado ontem sobre descriminalização, para agora abrir o debate sobre legalização.

VEJA – Por que cerca de 90% da população é contra a legalização?
SILVEIRA – A maioria, acho, por preconceito. Se tivessem informações, talvez não fossem. A imprensa às vezes diz “Fumou maconha e matou a família”. A droga passa a ser associada subliminarmente à violência. Os estudos científicos têm demonstrado que os atos de violência estão muito mais relacionados ao uso de álcool do que ao de drogas ilícitas.

VEJA – A droga incita a violência?

SILVEIRA- Não. A droga libera o que já existe. Se você for violento, será violento. A ideia de relacionar crimes com drogas é preconceituosa. Seria como dizer que alguém se tornou assassino por ser homossexual, negro ou judeu.

27/02/2013

Ibogaína: Revista Época - A droga da salvação


A droga da salvação - Revista Época / Nacional

Pesquisadores americanos apostam na ibogaína, uma raiz encontrada na África, para combater a dependência química

E um processo longo e doloroso. A dependência se instala no organismo, cresce e domina a pessoa. A internação é obrigatória. Depois do período de desintoxicação, crises de abstinência ainda provocam febre, náusea, dores. Durante meses, necessidades vitais, como alimentação e sono, ficam comprometidas. Vive-se um período tenso, em que as relações familiares e sociais se deterioram, a carreira entra em colapso, a recaída é iminente. Para enfrentar esse panorama sombrio, cientistas americanos apostam na ibogaína, um alucinógeno usado em rituais africanos. A idéia é que ela funcione como um antídoto às drogas mais conhecidas.

Trata-se de um alcalóide extraído da casca da raiz do arbusto Tabernanthe iboga. É consumido há séculos por tribos do Gabão, em cerimônias religiosas. Ingerido em dose elevada, provoca alucinações. Na medida certa, pode contribuir para a cura de viciados. Pesquisas recentes relatam sua eficácia em dependentes de heroína, cocaina, crack e álcool.

O Food and Drug Administration (FDA), o órgão americano que autoriza o uso de novos medicamentos, ainda não elevou a ibogaína à categoria de remédio. A substância, no entanto, vem sendo testada em voluntários pelo departamento de neurologia da Universidade de Miami há uma década. A ibogaína já é empreqada no tratamento de viciados no Centro Médico Paitilla, no Panamá, desde 1994, e no Healing visions Institute for Addiction Recovery, clínica instalada na Ilha de St. Kitts, no Caribe, em 1996. Cerca de 250 casos de dependentes reabilitados - inclusive um brasileiro -, tanto nas clínicas panamenha e caribenha, quanto em experiências isoladas nos Estados Unidos e na Holanda, foram apresentados em um congresso na Universidade de Nova York em 1999.

O alcalóide atua em duas frentes. Restabelece a produção de dopamina no cérebro, afetada pelo consumo de outras drogas. Com isso, o paciente recupera a sensação de conforto e bem-estar normal. Essa é a resposta química. Altera também comportamentos. Segundo voluntários ele provoca certa confusão mental. E comum os pacientes verem imagens do passado. Essa é a resposta psicológica. Na regressão, muitos usuários reavaliam o caminho que os teria conduzido ao vício e à dependência.

As propriedades terapêuticas da ibogaína foram documentadas pela primeira vez pelo americano Howard Lotsof, em 1962. Dependente de heroína, Lotsof, então com 19 anos, comprou um punhado da raiz de um traficante. Experimentou-a e viajou, como se diz no jargão dos consumidores de alucinógenos. Passado o efeito, verificou que já não sentia vontade de injetar heroína na veia. Induziu três amigos, todos viciados, a repetir o procedimento. O resultado foi o mesmo. Na década de 80, estabeleceu-se na Holanda, onde o consumo de drogas é tolerado, abriu uma empresa e patenteou o uso da substância em tratamentos contra a dependência de opiáceos, álcool e estimulantes. "A ibogaína é uma estrada de libertação da escravidão das drogas", afirmou Lotsof a Época.

A pedido do americano

Deborah Mash, professora de neurologia da Universidade de Miami, acompanhou o tratamento de três viciados em heroína num quarto de hotel em Leiden, na Holanda, em 1992. Ficou impressionada. "A ibogaína faz uma limpeza no corpo, na mente e no espírito", disse. No dia seguinte, conseguiu autorização do FDA para estudar a substância. As pesquisas estão no estágio de avaliação dos efeitos tóxicos.

A terapia à base de ibogaína ainda é muito controvertida. A morte de três pessoas por intoxicação com a droga, duas na Holanda e uma na Suíça, deixou as autoridades americanas ressabiadas. Experiências com animais comprovaram que a substância pode provocar convulsões e parada cardíaca. Como seu uso ainda não está autorizado nos EUA, médicos americanos têm levado o tratamento para países vizinhos, onde é aprovado pelos governos locais. A clínica caribenha pertence à neurologista Deborah Mash. Howard Lotsof assessora a equipe do Centro Médico Paitilla, no Panamá.


Os pacientes são submetidos a uma bateria de exames antes de iniciar a terapia. Depois, assinam um termo de responsabilidade. Só então são internados para ingerir uma única cápsula de ibogaína. O transe varia de 24 a 36 horas. A compulsão por outras drogas, dizem os clientes das duas clínicas, cessa ao final da viagem. Não há crises de abstinência. O tratamento dura de cinco dias a duas semanas e pode custar entre US$ 12 mil e US$ 20 mil.

O psiquiatra Dartiu Xavier diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo, tem pronto um protocolo de pesquisa com voluntários. Dois de seus pacientes experimentaram a ibogaína no Exterior. "Eles largaram a cocaína", afirma. Nos EUA, a Universidade de Miami questiona a patente do medicamento, hoje nas mãos de Lotsof.

A briga nos tribunais dificulta a arrecadação de recursos da iniciativa privada para a finalização dos estudos - seriam necessários ainda US$ 30 milhões. No mundo inteiro, viciados anseiam pela liberalização da droga que pode salvá-los.

Artigo retirado do site da Unifesp, para ver o site, clique aqui.

19/02/2013

Série semanal Drogas: O Crack

SÉRIE SEMANAL DROGAS: HOJE
CRACK



Crack: O Crack é uma substância estimulante do Sistema Nervoso Central, sendo que tal substância é advinda do Cloridrato de cocaína, sendo que a forma usual de uso são as formas aspirada ou dissolvida em água para uso intravenoso.

Como a cocaína sofre alterações quando submetida ao calor, para que a forma fumada seja usada necessita-se trabalhar tal composto com a adição de bicarbonato de sódio e água.
Tal droga recebe este nome, pois em tal preparado a pasta de cocaína se torna endurecida, se quebrando em pedaços e emitindo sons que lembram o som da palavra “crack”.

Quando se fuma o crack, ele entra pelos pulmões, órgão este intensivamente vascularizado e com grande superfície, levando a absorção instantânea. Por meio da circulação chega ao cérebro causando os efeitos da cocaína, porém muito mais rapidamente do que por outras vias.

Tão rápido quanto o início dos efeitos é a duração da manutenção deste efeito ( 5 minutos na forma fumada diferente da cocaína que pode durar de 20 a 45 minutos ), o que faz com que o usuário necessite utilizar mais vezes a substância.

Em relação ao fumo do crack ele é realizado por meio de cachimbos, desde os mais comuns, feitos de madeira,  desde aqueles confeccionados de latas de alumínio, canos de plástico ou metal, copos de plástico, entre outros.

Efeitos

Os efeitos após a pipada( ato de fumar o crack em cachimbos ) são:
1.       Sensação de grande prazer
2.      Intensa euforia e poder

Estes efeitos duram muito pouco tempo ( no máximo 5 minutos ), o que pode levar o usuário a consumir a substancia de forma compulsiva, termo este conhecido como fissura, que nada mais é do que o desejo incontrolável do usuário em sentir novamente o prazer que sentiu com o uso.

Além disso, a substância pode provocar efeitos como agitação psicomotora e agressividade. O uso do Crack é envolto por três situações graves que acometem seus usuários: PARANOIA,  FISSURA E DEPRESSÃO PÓS-USO.

Com o uso prolongando os usuários podem sentir:

·         Insônia
·         Hiperatividade
·         Estado de excitação
·         Perda da sensação do cansaço
·         Falta de apetite ( bem usual chegando a causar perda de peso extrema ), 8 a 10kg em menos de um mês

Além disso, com o tempo prolongado de uso o usuário pode perder as noções básicas de higiene, sentir cansado e depressivo.

Outros problemas ligados ao uso são:

·         Aumento da pressão arterial,
·         Risco de infartos e acidentes vascular encefálico (AVE),
·         Baixa de imunidade devido à má nutrição,
·         Predisposição a doenças pulmonares,
·         Lesão em lábios e boca por queimaduras ( com maior risco de se contrair Herpes e Hepatite C )

Redução de danos

Segundo Andrade et al , 2001; a “Redução de danos é uma política de saúde que se propõe a reduzir os prejuízos de natureza biológica, social e econômica do uso de drogas, pautada no respeito ao indivíduo e no seu direito de consumir drogas”.

Estratégias de Redução de Danos para os usuários de Crack

·         Uso de folhetos explicativos, trabalhando-se com o incentivo a redução de uso ou mesmo migração para padrões de uso menos danosos;

·         Uso do cachimbo, já que o uso pode ser feito em locais nada higiênicos, como latas e copos usados oferecendo riscos de intoxicação devido a resíduos de certos materiais;

·         Uso de bocais removíveis nos cachimbos;

·         Substituição do Crack por substâncias que comparativamente causem menos danos, como o mesclado, “freebase” e a maconha;

·         Distribuição de preservativos e saches de lubrificantes;

·         Uso de protetores labiais para evitar possíveis rachaduras em região de boca, evitando a transmissão de DST’s.

Referências:

Niel, Marcelo; da Silveira, Dartiu Xavier. Drogas e Redução de Danos: uma cartilha para profissionais da saúde- São Paulo, 2008.
Cebrid. Livreto informativo sobre drogas psicotrópicas. São Paulo, 2010.

Retirado do usuário Jamacor2 do Youtube.

13/02/2013

Polêmico artigo do Proad


This article was written in 1999, polemic and current. You need to read and comment!

Este artigo foi escrito em 1999, polêmico e atual. Você precisa ler e comentar!

Therapeutic use of cannabis by crack addicts in Brazil.      


J Psychoactive Drugs. 1999 Oct-Dec;31(4):451-5.

Source
Departamento De Psiquiatria, Escola Paulista De Medicina, Universidade Federal De São Paulo, Brazil. eliseul@uol.com.br

Abstract

This study ensued from clinical observations based on spontaneous accounts by crack abusers undergoing their first psychiatric assessment, where they reported using cannabis in an attempt to ease their own withdrawal symptoms. 

Throughout a period of nine months, the researchers followed up on 25 male patients aged 16 to 28 who were strongly addicted to crack, as diagnosed through the Composite International Diagnostic Interview (CIDI), according to CID-10 and DSM-IV diagnostic criteria. 

Most of the subjects (68%, or 17 individuals) ceased to use crack and reported that the use of cannabis had reduced their craving symptoms, and produced subjective and concrete changes in their behavior, helping them to overcome crack addiction. 

The authors discuss some psychological, pharmacological and cultural aspects of these findings.



06/02/2013

Estudos com Ibogaína para tratamento contra dependência química


Ibogaína: a droga que cura o vício


Da planta iboga é extraída a ibogaína, uma substância psicodélica que faz sonhar por 12 horas e é cada vez mais usada contra a dependência química.
Fausto Salvadori ( Revista Galileu online )

Deitado numa cama, Wladimir Kosiski, 33 anos, viu, literalmente, sua vida passar como num filme — e descobriu que era um drama ruim. A abertura até prometia: cenas de sua infância e adolescência, o casamento, o emprego como vendedor em uma multinacional em Curitiba (PR), a faculdade, dois filhos... Mas, ao chegar aos 21 anos, o roteiro virava filme B, uma típica história de dependência de drogas, reprisando todos os clichês do gênero.

O crack, então, roubava a cena: uma sequência previsível de empregos perdidos, faculdade abandonada e bens vendidos a preço de banana para pagar o vício. E sua carreira de vendedor em multinacional acabou enveredando para a vida de aviãozinho do tráfico em troca de alguns gramas de pedras.

O filme apareceu como uma espécie de sonho acordado durante as 48 horas que Wladimir passou sob o efeito da ibogaína, uma droga psicodélica, em uma clínica no Estado de São Paulo (que prefere não divulgar o nome). Durante esse tempo, ele ficou sonolento, mas plenamente consciente. Viu nítidas as imagens de sua vida, como se fossem projetadas em uma tela de LCD na parede do quarto, logo acima do médico que o observava sobre a cama.

Quando o efeito passou, foi a primeira vez em anos que Wladimir acordou sem a fissura, o desejo incontrolável pela fumaça do crack que ataca os dependentes. Nem o desejo, nem as náuseas e nem as dores comuns desse tipo de abstinência apareceram. “Era como se eu nunca tivesse usado droga nenhuma”, diz o hoje administrador de empresas, que passou pelo tratamento e se livrou da dependência em 2007.

A substância que ajudou Wladimir é cada vez mais usada em terapias experimentais contra o vício. De 1962, quando começou a ser testada em dependentes químicos, até 2006, 3.414 pessoas usaram a ibogaína, obtida a partir da raiz de um arbusto africano, a iboga, para fins terapêuticos.

Só nos últimos quatro anos, no entanto, 7 mil pessoas passaram pelas terapias, de acordo com dados preliminares de um estudo do Dr. Kenneth Alper, da New York School of Medicine, nos Estados Unidos. O número de tratamentos cresceu tanto que provocou uma escassez da substância, ainda produzida de maneira artesanal, no mundo.

AVAL DA CIÊNCIA: 

Boa parte dos cientistas torce o nariz diante da ideia de se usar uma fortíssima droga psicodélica para se tratar dependentes químicos. Porém, o crescimento no número de terapias bem-sucedidas e o início de novos estudos deram mais credibilidade à prática.

Um deles começou em julho, conduzido pela Associação Multidisciplinar para Pesquisa de Psicodélicos (MAPS, na sigla em inglês), de Santa Cruz, na Califórnia. De acordo com a entidade, trata-se da primeira pesquisa sobre os efeitos de longo prazo da ibogaína na luta contra o vício.

O levantamento é feito em cima de usuários de heroína, tratados com a droga por uma clínica do México, a Pangea Biomedics. O interesse dos pesquisadores surgiu após estudos que mostram os benefícios da prática. “Há cada vez mais aceitação por parte da comunidade científica”, afirma Randolph Hencken, diretor de comunicação da MAPS. Os pacientes da Pangea são, em boa parte, americanos que cruzam a fronteira para receber um tratamento considerado ilegal nos EUA (embora a pesquisa seja permitida por lá).

A ibogaína também é proibida na Dinamarca, na Bélgica, na Suécia e na Suíça. Já no Gabão, é considerada tesouro nacional. Na África Central, curandeiros usam a raiz em rituais contra as chamadas “doenças do espírito”.

Um deles, da religião Bouiti no Camarões, faz com que o participante coma uma grande quantidade de iboga (que pode chegar a 500 g) enquanto um grupo canta, toca e dança a noite inteira. A cerimônia de três dias pode produzir um coma induzido — o que é entendido como uma viagem ao mundo dos mortos. O objetivo, dizem, é receber revelações, curar doenças ou comunicar-se com aqueles que já morreram. Trabalho da antropóloga paulistana Bia Labate, que estudou a droga, afirma que
“acredita-se que os pigmeus tenham descoberto a iboga em tempos imemoriáveis”.

A primeira pesquisa brasileira no assunto está prevista para começar no ano que vem, sob orientação do psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ainda que os resultados sejam positivos, não há chance de cápsulas de ibogaína chegarem às farmácias tão cedo.
“Sob estrita supervisão médica, a droga poderia se tornar um medicamento, mas custaria milhões de dólares em estudos e ainda não há investidores para tanto”, diz Hencken.

Comprimidos feitos com substância da raiz dos arbustos africanos
Crédito: divulgação

O EFEITO: 

Ainda não se sabe exatamente como essa substância atua no combate à dependência, mas dezenas de pesquisas em animais e humanos indicam que age em dois níveis: tanto na química cerebral como na psicologia do dependente. Por um lado, a droga estimula a produção do hormônio GDNF, que promove a regeneração do tecido nervoso e estimula a criação de conexões neuronais.

Isso permitiria reparar áreas do cérebro associadas à dependência, além de favorecer a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores responsáveis pelas sensações de bem-estar e prazer. Isso explicaria o desaparecimento da fissura relatado pelos dependentes logo após sair de uma sessão.

Na outra frente, a ibogaína promoveria uma espécie de psicoterapia intensiva ao fazer o paciente enxergar imagens da própria vida enquanto a mente fica lúcida. Estas visões não seriam alucinações, como as imagens de uma viagem de LSD. É como sonhar de olhos abertos, o que ajudaria os dependentes a identificar fatores que os teriam empurrado para as drogas em determinados momentos da vida.

Estudos com eletroencefalogramas feitos pela Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, apontaram que ondas cerebrais de um paciente que tomou ibogaína têm o mesmo comportamento daquelas de alguém em REM (a fase do sono em que sonhamos). “O sonho renova a mente e, se no sono comum temos apenas cinco minutos de sonho a cada duas horas, na ibogaína são 12 horas de sonho intensivo”, aponta o gastroenterologista Bruno Daniel Rasmussen Chaves, que estuda o tema desde 1994 e participará da pequisa da Unifesp.

RISCOS: 


No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que não há restrições legais à ibogaína, mas seu uso como medicamento não está regulamentado. Por isso, os tratamentos são considerados experimentais e as clínicas não fazem propaganda.

A importação é feita pelos próprios pacientes, que pagam cerca de R$ 5 mil por uma sessão com o derivado da raiz. Após passar por exames médicos, o dependente ingere as cápsulas, deita-se em uma cama e deixa sua mente navegar pelos efeitos, que podem durar até 72 horas. Durante esse tempo, médicos monitoram o paciente. Vale dizer que a literatura médica registra 12 óbitos associados ao uso de ibogaína nas últimas quatro décadas, provocados por diminuição na frequência cardíaca (o equivalente a uma morte a cada 300 usuários).

No entanto, estudos de Deborah Mash, neurologista da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, que já acompanhou o tratamento de cerca de 500 pacientes, apontam que não há registro de morte por ingestão de ibogaína em ambiente hospitalar. É preciso que o paciente chegue “limpo” à sessão. “As mortes registradas ocorreram em tratamentos de fundo de quintal, em que as pessoas fizeram uso concomitante de ibogaína e outras substâncias”, afirma Chaves.

NÃO HÁ FÓRMULA MÁGICA: 


Estudiosos e pacientes avisam: a droga não é uma poção mágica. Para se livrar da dependência, Wladimir Kosiski aliou o tratamento à psicoterapia e mudança drástica de hábitos. Voltou a trabalhar, a estudar e nunca mais pisou no local onde comprava crack. Não foi isso o que fez o professor Gilberto Luiz Goffi da Costa, 44 anos, que se tratou com ibogaína pela primeira vez em 2005. Viciado em drogas desde os 14 anos, Gilberto já acumulava 18 tratamentos fracassados contra dependência. Volta e meia, dormia nas ruas de Curitiba e praticava roubos para comprar crack: já havia sido preso cinco vezes. Após usar ibogaína, achou que estava curado. “Tive uma sensação de bem-estar, mas é um efeito que se perde depois”, afirma. Estava livre do desejo, mas continuou a frequentar os mesmos ambientes e amigos com quem dividia drogas.

Em pouco tempo, foi dominado novamente pelo crack. “A ibogaína retira a fissura, mas a pessoa pode continuar a usar droga mesmo sem vontade, como alguém que estraga um regime por gula, não por fome”, diz Chaves. Gilberto só conseguiu permanecer “limpo” após a terceira vez que se tratou, em 2008, quando aliou a substância a uma troca completa de atitudes, seguindo o método dos Narcóticos Anônimos.

Sem consumir drogas há dois anos, hoje dá aulas de línguas e é consultor no tratamento de outros dependentes. Ao contrário da viagem pelo mundo dos mortos em uma sessão dos rituais africanos, a ibogaína ajudou o curitibano, pouco a pouco, a permanecer no mundo dos vivos. 

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